sábado, 28 de fevereiro de 2009

COQUEIROS (PARTE II)






































VIAGENS A COQUEIROS! (PARTE I)

Quando partimos, sequer tínhamos idéia do que nos esperava.
Quase esquecidos depois da estrada interminável,
como se fora uma outra estrada.
Ou isso, ou conjecturas da minha fértil imaginação?
Estávamos lá a procura do simples,
e deparámo-nos com a essência da vida.
A simplicidade nos leva a ricos caminhos
e nos dão a medida exata por onde caminharmos.
Cada ida, uma viagem sem fim,
encontros, descobertas, surpresas
e desejo infinito de compreender
cada vez mais!



























































Gleice e Silvia,
companheiras de muitas viagens!




































































Tuas mãos (Pablo Neruda)

Quando tuas mãos saem,
amada, para as minhas,
o que me trazem voando?
Por que se detiveram em minha boca, súbitas,
e por que as reconheço
como se outrora então
as tivesse tocado,
como se antes de ser
houvessem percorrido
minha fronte e a cintura?
Sua maciez chegava
voando por sobre o tempo,
sobre o mar, sobre o fumo,
e sobre a primavera,
e quando colocaste
tuas mãos em meu peito,
reconheci essas asas
de paloma dourada,
reconheci essa argila
e a cor suave do trigo.

A minha vida toda
eu andei procurando-as.
Subi muitas escadas,
cruzei os recifes,
os trens me transportaram,
as águas me trouxeram,
e na pele das uvas
achei que te tocava.
De repente a madeira
me trouxe o teu contacto,
a amêndoa me anunciava
suavidades secretas,
até que as tuas mãos
envolveram meu peito
e ali como duas asas
repousaram da viagem.
PS:. As mãos, as minhas, as tuas, as nossas;
as mãos que moldam a vida,
o barro, o amor, a amizade;
As mãos aquecidas, sem frio,
plenas de dar, esquecidas de receber!
Carmen

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

BARRO - Matéria mítica ligada a origem de todas as coisas!



A localidade de COQUEIROS , distrito de Maragogipe,
está localizada às margens do Rio Paraguaçu (belíssimo),
recôncavo baiano, distante 130 km de Salvador (Bahia).
Perto de Cachoeira e São Félix, cidades históricas, tem a tradição da cerâmica; as peças são modeladas à mão e queimadas em fogueiras a céu aberto.
São peças rústicas, pintadas com o "tauá" apenas no seu interior e podem ser levadas ao fogo.

Nesta comunidade, em outubro de 2008, tivemos a oportunidade de conhecer a força e o trabalho de mulheres que literalmente põe a mão na massa, e modelam suas vidas com força e coragem.
Lugar pequenino, escondido as margens do Paraguassú destemido,
passa de desconhecido a encantador!
Coqueiro, dias de muito sol, dias de luz, trabalho, possibilidades
e muitas esperanças.
Encontros que certamente fizeram a diferença e diferente nos fizeram!
Conhecemos "Néia", mulher, inteligente, doce, íntegra, ética,
como a muito não sabíamos.
Aprendemos e ensinamos,
Raros momentos, Coqueiros!
Carmen Bastos





















Carmen e Néia
04/12/2008






quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Hoje pensei sentir Clarice Lispector!
Sinto nos seus desvaneios, sua fala, sua poesia,
seus livros, suas crônicas,
uma força e uma fragilidade conjunta.
Paradoxal, tímida e ousada, alegre e triste, atordoada,

sofrida, amarga, sensível, inocente, cansada, mas apaixonada, sempre!
Sou fascinada por Clarice Lispector.



"Ler Clarice é uma oportunidade de mudar o seu olhar diante do universo. É estar disponível para se aventurar no seu interior de forma irracional, sem censuras. Deixar-se levar pela imaginação, pela intuição e usá-las como forma de conhecimento.
Viver essa experiência de ser leitor de Clarice é uma aventura no que ela tem de imprevisível, surpreendente, perigoso, ao mesmo tempo é um presente porque quando se está lendo Clarice você se sente especial dentro deste universo criado por ela. Especial porque você consegue se reconhecer como um ser humano cheio de limitações, sujeito às adversidades da vida, ao fracasso, às crises, mas também capaz de trilhar um caminho repleto de descobertas, de sustos, de grandes alegrias, de momentos de êxtase, vertigens, delírios.
Ler Clarice é a possibilidade de viver intensamente o que se é.
Seu texto é um convite permanente ao "viver ultrapassa todo o entendimento" (palavras de Clarice).

Teresa Montero é doutora em Letras pela PUC-Rio, autora de Eu sou uma pergunta – uma biografia de Clarice Lispector (1999), organizadora de Correspondências – Clarice Lispector (2002), Outros escritos e Aprendendo a viver imagens.





Clarice Lispector
Brasil
[1920-1977]
Escritora





Clarice Lispector, nascida Haia Lispector (Chechelnyk, 10 de dezembro de 1920Rio de Janeiro, 9 de dezembro de 1977) foi uma escritora brasileira, nascida na Ucrânia.
Autora de linha introspectiva, buscava exprimir, através de seus textos, as agruras e antinomias do ser. Suas obras caracterizam-se pela exacerbação do momento interior e intensa ruptura com o enredo factual, a ponto de a própria subjetividade entrar em crise.
A obra de Clarice ultrapassa qualquer tentativa de classificação. A escritora e filósofa francesa Hélène Cixous vai ao ponto de dizer que há uma literatura brasileira A.C. (Antes da Clarice) e D.C. (Depois da Clarice). (Wikipédia)


FRAGMENTOS


"Há momentos na vida em que sentimos tanto a falta de alguém que o que mais queremos é tirar essa pessoa de nossos sonhos e abraçá-la."

"O que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesmo."

"É tão difícil falar e dizer coisas que não podem ser ditas.É tão silencioso. Como traduzir o silêncio do encontro real entre nós dois?
Dificílimo contar. Olhei pra você fixamente por instantes.
Tais momentos são meu segredo.
Houve o que se chama de comunhão perfeita.
Eu chamo isto de estado agudo de felicidade".

"Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença.
Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco:
quer-se absorver a outra pessoa toda.
Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira
é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida".


"Estou sentindo o martírio de uma importuna sensualidade.De madrugada acordo cheia de frutos.Quem virá colher os frutos de minha vida?

"Mas há a vida que é para ser intensamente vivida, há o amor.Que tem que ser vivido até a última gota.Sem nenhum medo. Não mata."

"Estou à procura de um livro para ler. É um livro todo especial.
Eu o imagino como a um rosto sem traços. Não lhe sei o nome nem o autor. Quem sabe, às vezes penso que estou à procura de um livro que eu mesma escreveria. Não sei. Mas faço tantas fantasias a respeito desse livro desconhecido e já tão profundamente amado. Uma das fantasias é assim.
Eu o estaria lendo e de súbito, uma frase lida, com lágrimas nos olhos diria em êxtase de dor e de enfim libertação:
Mas é que eu não sabia que se pode tudo, meu Deus!"

"Quando eu me comunico com criança é fácil porque sou muito maternal. Quando me comunico com adulto, na verdade estou me comunicando com o mais secreto de mim mesma, daí é difícil... O adulto é triste e solitário. A criança tem a fantasia muito solta."

"Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é possível fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada."

"A harmonia secreta da desarmonia: quero não o que está feito mas o que tortuosamente ainda se faz. Minhas desequilibradas palavras são o luxo de meu silêncio. Escrevo por acrobáticas aéreas piruetas - escrevo por profundamente querer falar. Embora escrever só esteja me dando a grande medida do silêncio."

"Sou um monte intransponível no meu próprio caminho."

"Amor será dar de presente um ao outro a própria solidão? Pois é a coisa mais última que se pode dar de si."

"Toda a compreensão súbita é a revelação de uma aguda incompreensão."

"A vida é uma grande sedução onde tudo o que existe se seduz."

"O tédio é de uma felicidade primária demais! E é por isso que me é intolerável o paraíso."

"Quando se realiza o viver, pergunta-se: mas era só isto? E a resposta é: não é só isto, é exactamente isto."

"Os factos são sonoros. O que importa são os silêncios por trás deles."

"E ninguém é eu, e ninguém é você. Esta é a solidão."

"Enquanto eu tiver perguntas e não houver respostas, continuarei a escrever."

“Estou desorganizada porque perdi o que não precisava? Nesta minha nova covardia – a covardia é o que de mais novo já me aconteceu, é a minha maior aventura, essa minha covardia é um campo tão amplo que só a grande coragem me leva a aceitá-la –, na minha nova covardia, que é como acordar de manhã na casa de um estrangeiro, não sei se terei coragem de simplesmente ir. É difícil perder-se. É tão difícil que provavelmente arrumarei depressa um modo de me achar, mesmo que achar-me mesmo seja de novo a mentira que vivo.”

A lucidez perigosa (poema)

Estou sentindo uma clareza tão grande
que me anula como pessoa atual e comum:
é uma lucidez vazia, como explicar?
assim como um cálculo matemático perfeito
do qual, no entanto, não se precise.

Estou por assim dizer vendo claramente o vazio.
E nem entendo aquilo que entendo:
pois estou infinitamente maior que eu mesma,
e não me alcanço.
Além do que:
que faço dessa lucidez?
Sei também que esta minha lucidez
pode-se tornar o inferno humano- já me aconteceu antes.

Ao falar de suas origens:
"Sou brasileira naturalizada, quando, por questão de meses, poderia ser brasileira nata. Fiz da língua portuguesa a minha vida interior, o meu pensamento mais íntimo, usei-a para palavras de amor."

Ao falar sobre seus primeiros textos:
"Comecei a escrever pequenos contos logo que me alfabetizaram, e escrevi-os em português, é claro. Criei-me em Recife. [...] E nasci para escrever. A palavra é meu domínio sobre o mundo."

Ao ser perguntada porque escolheu a literatura para sua vocação:
"[...] talvez porque para as outras vocações eu precisaria de um longo aprendizado, enquanto que para escrever o aprendizado é a própria vida se vivendo em nós e ao redor de nós. É que não sei estudar. E, para escrever, o único estudo é mesmo escrever."

As últimas entrevistas de Clarice Lispector, não deixe de ouví-las!

http://www.youtube.com/watch?v=9ad7b6kqyok
http://www.youtube.com/watch?v=ZVwj3pHAi_s&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=TvLrJMGlnF4&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=TbZriv5THpA&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=tZEYMh4pETw&feature=related




















"Prescindir da esperança significa que eu tenho que passar a viver,
e não apenas a me prometer a vida"
Clarice Lispector


Esperança



Tantas formas revestes, e nenhuma
Me satisfaz!
Vens às vezes no amor, e quase te acredito.
Mas todo o amor é um grito
Desesperado
Que apenas ouve o eco...
Peco
Por absurdo humano:
Quero não sei que cálice profano
Cheio de um vinho herético e sagrado.

Miguel Torga, in 'Penas do Purgatório'



Não Pode Tirar-me as Esperanças

Busque Amor novas artes, novo engenho
Para matar-me, e novas esquivanças;
Que não pode tirar-me as esperanças,
Que mal me tirará o que eu não tenho.

Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Pois não temo contrastes nem mudanças,
Andando em bravo mar, perdido o lenho.
Mas conquanto não pode haver desgosto
Onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê.

Que dias há que na alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde;
Vem não sei como; e dói não sei porquê.

Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"






quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

"Música é vida interior; e quem tem vida interior, jamais padecerá de solidão".
Tchaikovsky

A música faz parte da minha vida.
Foi também através do meu pai que a conhecí.
Lembro-me dos primeiors discos ,
as primeiras melodias, os primeiros cantores,
e as primeiras emoções!
Era tomada por uma espécie de nostalgia,
mergulhava naquela emoção e deixava que a música me levasse.
Eram momentos únicos perto daquela vitrola antiga;
sons que eu nunca conhecera antes e palavras musicadas de forma
que jamais pensei que houvera.


Assim a música entrou na minha vida, definitivamente!
A música é som, é viagem, é lembrança, é alegria,
é emoção, é amor, é saudade, é tristeza, melancolia,
é vida!

Ontem ví e ouví um DVD sobre vida e obra de TOM JOBIM,
mas outro, dos tantos que já vi.
E confesso que não canso de admirar sua obra, sua vida
e a emoção que o Tom me transmite, sempre.
Posso enumerar aqui todas as músicas que ele fez,
juntamente como o Chico, Edú, Vinicius, e outros parceiros.
Em 1959 ele escreveu "Eu sei que vou te amar"; e eu a conhecí aos 12 anos,
através de um LP, comprado por meu pai, de Nelson Gonçalves,
que a cantava do seu jeito, como ninguém.
E assim aprendí a amá-la e entender sua magia.


Meu tributo a Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim!

Eu sei que vou te amar

Por toda a minha vida, eu vou te amar
Em cada despedida, eu vou te amar
Desesperadamente Eu sei que vou te amar
E cada verso meu será
Prá te dizer que eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida


Eu sei que vou chorar
A cada ausência tua eu vou chorar
Mas cada volta tua há de apagar
O que esta ausência tua me causou
Eu sei que vou sofrer
A eterna desventura de viver
À espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida

“… A música é capaz de reproduzir em sua forma real
a dor que dilacera a alma e o sorriso que inebria …“
“Beethoven”












Quem já viu a lua Cris ?



MSP, 2008

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

SOBRE A AMIZADE

Cícero ensina que a amizade verdadeira é desinteressada: ela não fica, severa, a controlar se está dando mais do que recebeu. Por isso chamam de "consumatória" a verdadeira amizade, porque, os amigos convivem de modo desinteressado e sem cálculo sobre a própria relação.

Quando Montaigne fala de sua amizade de E. La Boétie, demonstra admiração. Conceitua a amizade como um encontro existencial de almas que se entendem, muitas vezes não lhes percebendo sequer a linha de demarcação entre cada personalidade. (Montaigne. Ensaios: cap. XXVIII).

Efetivamente, os gregos antigos são fonte de inspiração sobre a amizade. Para Epicuro (341-270 a.C) “embora não altere o sofrimento nem possa evitar a morte, (a amizade ou "philia") ajuda a suportá-la (...). Ainda, a "philia" é o instrumento indispensável ao artesanato ético interior, pois a presença do amigo auxilia a procura e a manutenção da sabedoria...” (Pessanha, 1992).
Epicuro foi o sábio que mais teve amigos, na antiguidade, tamanho foi o número deles que vieram saudá-lo no seu funeral. Embora fosse um homem de saúde frágil, Epicuro, morreu feliz, brindando aos seus amigos com uma taça de vinho.
Sócrates (469-399 a.C.) também não se cansava de dizer que o maior bem que tinha na vida eram os amigos. Entretanto, sua ferina ironia, teria angariado para si muitos inimigos, dentre eles os sofistas. Uma de suas preocupações, como filósofo, era ensinar aos discípulos como fazer e como manter amizade, dado que existem pessoas que facilmente iniciam uma, mas não sabem como mantê-la.
Platão, seu principal discípulo, herdou do mestre sua dedicação para com esse assunto, fazendo vários diálogos elogiando a amizade.
Mas coube a Aristóteles elevar a amizade à categoria de virtude, que como tal é uma coisa absolutamente necessária para a vida – mais exatamente, para viver a vida com sentido de felicidade (gr.: eudaimonia). “Ainda que possuísse todos os bens materiais, um homem sem amigos não pode se feliz”, diz.
Homem do nosso tempo, o sociólogo italiano Alberoni, observa com propriedade que amizade só é possível entre “iguais”, ou entre aqueles que vivem a mesma condição humana. Portanto, é praticamente impossível existir amizade entre patrão e empregado, entre concorrentes, entre professor e aluno, entre médico e paciente, entre psicanalista e analisando, entre líder e liderados, entre sargento e soldado, entre uma autoridade e os seus subalternos, etc., porque sendo relações dessimétricas é natural que exista entre tais pessoas, respeito, veneração, temor reverencial, adulação, puxa saquismo, mas não amizade genuína. Para que alguma dessas relações vire uma amizade verdadeira há que ser superada tal dessimetria, além delas passarem por provas impostas pelas circunstâncias da própria vida.
Malebranche lembrou que as atitudes de adulação nada têm a ver com a amizade. O aluno que adula o professor, longe de promover a relação, reforça o narcisismo que todo professor não revela, mas se alimenta dele para exercer bem o seu ofício. A experiência mostra que o aluno adulador tem outros interesses facilmente adivinhados. Os discípulos que seguem a orientação de um “grande mestre” vão além da adulação quando almejam levar suas idéias para o ato, mas não fundam uma verdadeira amizade. Parece que o enamoramento e a amizade são de naturezas diferentes, embora existam muitos pontos de semelhança entre ambos, tais como: confiança, desejo de estar junto, agradar o outro, trocar pontos de vista, etc.
É mais sábio e gratificante para todo o ser humano ser levado por esse “impulso natural” que é a amizade do que ser movido por interesses supostamente elevados, onde o outro é reduzido a um mero objeto-instrumento de uma causa". (blog do Scheinman)

AMIGO É COISA PRA SE GUARDAR DO LADO ESQUERDO DO PEITO...

MESMO QUE O TEMPO E A DISTÂNCIA DIGAM NÃO!

Sossô, Carmen e Ivone.

São Paulo, INVERNO/2008

Envelhecer

Entra pela velhice com cuidado,
Pé ante pé, sem provocar rumores
Que despertem lembranças do passado,
Sonhos de glória, ilusões de amores.
Do que tiveres no pomar plantado,

Apanha os frutos e recolhe as flores
Mas lavra ainda e planta o teu eirado
Que outros virão colher quando te fores.
Não te seja a velhice enfermidade!

Alimenta no espírito a saúde!
Luta contra as tibiezas da vontade!
Que a neve caia! o teu ardor não mude!

Mantém-te jovem, pouco importa a idade!
Tem cada idade a sua juventude.
Bastos Tigre





PAI
Tempo em que fostes,
Tempo em que fostes tu,
Pai.
Esse tempo que é tempo,
Tempo do meu sofrer,
Tempo de te perder,
Meu tempo que já nem é mais,
Tempo ao olhar atras.
Pai.
Foram tantos dias ao teu lado;
sabia que seriam duros, difíceis, mas necesários dias.
Dias de certeza, dias de dúvidas
e outros de mais certeza ainda.
Muitas vezes me vi em ti,
Outras te vi em mim,
Confundiam-se emoções, mêdos,
Meus e teus, nossos.
Por fim partir, ir embora,
Tantas certezas e dor,
Cansaço,
De ti, de mim, de nós,
Pai!




















Saudades

Saudades! Sim… talvez… e porque não?…
Se o nosso sonho foi tão alto e forte
Que bem pensara vê-lo até à morte
Deslumbrar-me de luz o coração!
Esquecer! Para quê?… Ah! como é vão!
Que tudo isso, Amor, nos não importe.
Se ele deixou beleza que conforte
Deve-nos ser sagrado como pão!
Quantas vezes, Amor, já te esqueci,
Para mais doidamente me lembrar,
Mais doidamente me lembrar de ti!
E quem dera que fosse sempre assim:
Quanto menos quisesse recordar
Mais a saudade andasse presa a mim!
Florbela Espanca



segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Palavras de mestre nunca esquecidas

«Para ser grande, sê inteiro.
Nada teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.
Põe quanto és no mínimo que fazes.
Assim em cada lago, a lua toda brilha porque alta vive.»
Fernando Pessoa




Transmitir com paixão é privilégio do professor que ama seu ofício.
Transmitir valores é prerrogativa de quem os tem.

A Arte de Educar

A educação se divide em duas partes:
educação das habilidades e educação das sensibilidades…
Sem a educação das sensibilidades, todas as habilidades são tolas e sem sentido.
Os conhecimentos nos dão meios para viver.
A sabedoria nos dá razões para viver.
Quero ensinar as crianças.
Elas ainda têm olhos encantados. Seus olhos são dotados daquela qualidade que, para os gregos, era o início do pensamento… a capacidade de se assombrar diante do banal.Para as crianças, tudo é espantoso: um ovo, uma minhoca, uma concha de caramujo, o vôo dos urubus, os pulos dos gafanhotos, uma pipa no céu, um pião na terra. Coisas que os eruditos não vêem.
Na escola eu aprendi complicadas classificações botânicas, taxonomias, nomes latinos – mas esqueci. E nenhum professor jamais chamou a minha atenção para a beleza de uma árvore… ou para o curioso das simetrias das folhas. Parece que naquele tempo as escolas estavam mais preocupadas em fazer com que os alunos decorassem palavras que com a realidade para a qual elas apontam.
As palavras só têm sentido se nos ajudam a ver o mundo melhor. Aprendemos palavras para melhorar os olhos.
Há muitas pessoas de visão perfeita que nada vêem… O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido.
Quando a gente abre os olhos, abrem-se as janelas do corpo e o mundo aparece refletido dentro da gente.
São as crianças que, sem falar, nos ensinam as razões para viver. Elas não têm saberes a transmitir. No entanto, elas sabem o essencial da vida.
Quem não muda sua maneira adulta de ver e sentir e não se torna como criança jamais será sábio.
Rubens Alves









A querida Shoko,
mestra e amiga!
São Paulo, 2005















A Toshico,
Uma lembrança terna,
Minas Gerais, 2005


Hoje fui ao cinema, assitir " Quem quer ser um milionário? "
Triste ver a pobreza de Mumbai, interior da Índia.
Em contrapartida, bela fotografia.
História surpreendente e bons argumentos!

O que mais me encantou entretanto, foi a história emocionante sobre a coragem e determinação de um homem pela mulher que ele ama.


Diante da falta de sustentação do "discurso amoroso", que tanto temos falado, da falta de grande amores, e de coragem principalmente, o filme capturou-me.

Lembrei do meu amigo "Wali Hawes", ceramista, nascido na India, que faz uma cerâmica maravilhosa.

Além disso, delicadamente pôs meu site de cerâmica nos seus links.

A wali, pelo carinho e pela competência.

Abraços Walle,

Carmen (desde salvador-bahia -brasil)


www.walihawes.com


"os dias sem ti, são todos iguais,
são dias sem brilho são dias a mais".
Olhos abertos,
Olhos de solidão.
Vagueiam a tua procura,
eterna procura.
Cá não estás nunca,
nem agora nem amanhã.
Olhos de espera,
Sempre!
Carmen Bastos
Carnaval, 2009.

CURIOSIDADES

A festa carnavalesca surge a partir da implantação,
no século XI, da Semana Santa pela Igreja Católica,
antecedida por quarenta dias de jejum, a Quaresma.
Esse longo período de privações acabaria por incentivar
a reunião de diversas festividades nos dias que antecediam a Quarta-feira de Cinzas,
o primeiro dia da Quaresma.
A palavra "carnaval" está, desse modo,
relacionada com a idéia de "afastamento" dos prazeres da carne
marcado pela expressão "carne vale",
que, acabou por formar a palavra "carnaval".
Em geral, o Carnaval tem a duração de três dias,
os dias que antecedem a Quarta-feira de Cinzas.
Em contraste com a Quaresma, tempo de penitência e privação,
estes dias são chamados "gordos", em especial a terça-feira (Terça-feira gorda),
último dia antes da Quaresma.
Ao caráter de festa popular e desorganizada
juntaram-se outros tipos de comemoração
e progressivamente a festa foi tomando o formato atual.
O Carnaval é um período de festas regidas
pelo ano lunar no Cristianismo da Idade Média.
O período do Carnaval era marcado pelo "adeus à carne"
ou "carne vale" dando origem ao termo "Carnaval".

No Brasil, o Carnaval foi introduzido pelos portugueses.
Seu nome era entrudo —palavra que vem do latim introitus
e que designa as solenidades litúrgicas da Quaresma, por influência dos portugueses da Ilha da Madeira, Açores e Cabo Verde, que trouxeram a brincadeira de loucas correrias, mela-mela de farinha, água com limão, no ano de 1723, surgindo depois as batalhas de confetes e serpentinas.
O Carnaval daqui foi, até a metade do século XIX, uma festa de muita sujeira e molhação. Os escravos a festejavam sujando-se uns aos outros com polvilho e farinha de trigo, ou espirrando água pelas ruas com o auxílio de uma enorme bisnaga de lata.

As famílias brancas, refugiadas em suas casas, brincavam o Carnaval fazendo guerras de laranjinhas —pequenas bolas de cera que se quebravam espalhando água perfumada—, ou então, jogando de suas janelas um líquido não tão cheiroso na cabeça dos passantes.
Por isso as pessoas evitavam sair às ruas durante os dias do entrudo. Isso fez com que os bailes de máscara, realizados apenas para a elite durante o Primeiro Império, e, a partir da década de 1840, para a classe média, fizessem muito sucesso.
Nesses bailes, que eram pagos e feitos em teatros e hotéis do Rio de Janeiro, não se dançava o samba, mas sim o schottische, as mazurcas, as polcas, as valsas e o maxixe, que era o único ritmo genuinamente nacional. Somente em 1869, quando o ator Correia Vasques adaptou a música de uma peça francesa e deu para essa adaptação o nome de Zé Pereira —mesma música que é cantada até os dias de hoje—, apareceu a primeira música de Carnaval. Até então, todas as músicas eram instrumentais ou em outro idioma.
O carnaval da rua, entretanto, quase não existia. Tudo à custa da violência que tinha o entrudo.
Alguns jornalistas da época começaram a estimular a criação de carnavais que imitassem os de Roma e de Veneza, onde as pessoas saiam às ruas fantasiadas para tomar parte no corso ou para realizarem batalhas de flores ou de confete.
Um dos jornalistas que defendia ardorosamente esta forma de Carnaval era José de Alencar, o qual escreveu na sua coluna do "Jornal Mercantil" do Rio de Janeiro, às vésperas do Carnaval de 1855, a seguinte frase: "Confesso que esta idéia me sorri. Uma espécie de baile mascarado, às últimas horas do dia, à fresca da tarde, num belo e vasto terraço, com todo o desafogo, deve ser encantador". Foi assim, após uma campanha dos jornalistas contra o violento entrudo e a favor do elegante Carnaval veneziano, que os desfiles de rua começaram a acontecer.
A partir daí o Carnaval pode ser dividido em dois tipos distintos de manifestação: um, feito pelas classes mais ricas nos bailes de salão, nas batalhas de flores, nos corsos e desfiles de carros alegóricos; outro, feito pelas classes mais pobres nos maracatus, cordões, blocos, ranchos, frevos, troças, afoxés e, finalmente, nas escolas de samba.
Assim, caótico desde seu princípio, o Carnaval brasileiro é também marcado pela divisão das classes sociais. Renato Roschel /Wikipédia