quarta-feira, 29 de setembro de 2010

A PSICANÁLISE E A PERDA!


O DESCONSOLO DA PERDA !


O desconsolo da perda - The disconsolate loss



"Só superamos a tristeza quando entendemos que perder não é sinonimo de não ter.
Que quem morreu já não está no mundo, mas pode existir em nós."
Betty Milan




Por que Dom Quixote de la Mancha é um dos romances mais lidos do mundo? Possivelmente porque o herói só se deixa governar pela fantasia.
Nós nos identificamos com o personagem porque ele
não quer saber da realidade.
Como os personagens de Gabriel García Márquez não querem.
Desconhecem inteiramente o limite entre o imaginário e o real.


Quem leu Cem Anos de Solidão não se esquece de José Arcadio Buendía,
"cuja desatada imaginação ia sempre mais longe que o engenho da natureza
e até mesmo além do milagre e da magia".
Ele acreditava que era possível desentranhar ouro da terra
com um lingote magnético.
O leitor também deve se lembrar da mulher de Buendía,
Úrsula, que depois da morte do marido
continuou a encontrá-lo no castanheiro
onde ele passou amarrado os últimos anos da sua vida.
Úrsula ia ao jardim lamentar a sorte dos seu descendentes,
chorar no ombro do marido e se consolar.
No povoado dos Buenía os morto morrem sem morrer.
Por isso, o romance arrebata e, mais que isso, consola.


O nosso maior desconsolo é a perda do ser amado.
Só superamos a tristeza quando entendemos que perder
não é sinonimo de não ter.
Que quem morreu já não está no mundo,
mas pode existir em nós.
Fazer o luto é entender que a morte não anula a existência e que,
sem estar, o morto ainda está.
Isso requer tempo.
Tanto mais tempo quanto menos ritualizada é a despedida.
Nas sociedades em que existe o culto ao ancestral,
a morte não deixa quem perde inteiramente desprotegido
como na nossa sociedade.
Entre nós, evita-se falar da morte
e não se tem tempo para a tristeza,
o que nos expõe mais ainda aos efeitos negativos dela.
Nada é pior do que a tristeza recalcada,
de ação sorrateira e consequências imprevisíveis.
Quem não chora o seu morto e não é consolado pelos vivos
fica sozinho com a perda.
Num certo sentido, é marginalizado.
Por outro lado, quem não tem tempo para o sofrimento alheio
não pode ter relações de amor ou de amizade.
E, assim, isola-se também.


Os personagens de romance encontram
soluções mágicas para os seus dramas.
Já nós somos obrigados a aceitar a realidade.
Mas nada nos impede de aprender com os personagens
a usar a nossa imaginação para viver melhor.
No caso do luto, isso significa rememorar: o encontro, a solidariedade,
o tempo feliz vivido na companhia do outro.
Rememorar em vez de lamentar a falta.
Só chora continuamente a perda do amado ou do amigo
quem não acredita na própria morte.
Ou desacredita o tempo, porque se ilude pensando que a vida não passa.