quarta-feira, 14 de abril de 2010

LEMBRANÇAS

Rosas roubadas e doces memórias, com também gestos de ternura escondida.
Palavras como “mariquices” levam-me a lembranças tardias,
ausentes, distantes, perdidas a muito.
Lembranças!
Foi Clarice também, a Lispector sim, como o Lobo Antunes,
ou o Drumond, quem sabe ao certo?
Gestos esquecidos, fora de moda, quase impossíveis,
que escondem ternura inquieta, coração a palpitar;
exalar dos perfumes e por vezes o sobressalto;
flagrada pela suavidade, pelo encanto do simples encanto das pétalas e do frescor de gotas que nas mãos caíam.
Eram em profusão;rosas,vermelhas, brancas,amarelas,graúdas, e meninas,
tantas então!
Nomeavam-se; algumas tinham estirpe e classe,
outras brotavam, a toa, pouco exigentes , brotavam, para encantar, enternecer.
Minha casa era ladeada por muitas, cheias de elegância e suavidade.
Canteiro eterno, sempre a florir, brotar.
Que desejo hoje tolo, roubar rosas aos jardins,
partir talos, tirar espinhos e aspergir a beleza e suavidade da vida,
como se fora a esperança única de delicadeza e paixão.
Doces lembranças, gestos únicos de candura e poesia.
Ah! quantas “mariquices” nestas palavras;
saudades, lembranças, ternuras, palavras não ditas, esquecidas,
pueris talvez, eternas sempre.
Poucos canteiros, tantas rosas!

Carmen Bastos