sábado, 20 de junho de 2009

VOAR, VOAR............

"Que vais fazer com a saudade?
Por que caminhos vais conseguir que o pensamento se detenha,
que não recorde minudências que regressam com uma precisão dolorosa?"
Maria de La Pau Janer, "As mulheres que há em mim"




FRAGMENTOS










Tenho medo,
Muito medo
De não saber
Florescer
Mais de uma vez.
(Ângela Botero López)

sexta-feira, 19 de junho de 2009

VOLTANDO A CALDAS DA RAINHA, PORTUGAL,
COM IMENSA SAUDADE, SEMPRE!

Mensagens............
Chegam-me mansamente,
Trazem-me tanta coisa,
enchem-me de afeto.

Recebí escritos da Rita e do Manuel,
amigos muito queridos,
companheiros de tantas horas,
principalmente nas noites frias das Caldas,
onde muitas vezes nos seus colos me refugiei.
Talvez não suponham o tamanho da saudade
e da força das lembranças dos nossos momentos.

A Rita mandou-me duas poesias, belíssimas,
de quem eu não conhecia.
Chama-me de "enorme menina bonita"
e pede que eu continue a sorrir,
quando me sinto as vezes "pequenina", tão!

Escritor e poeta angolano,ONDJAKI

PARA VIVENCIAR NADAS
borboleta é um ser irrequieto.
para vestes usa pólen.
tem um cheiro colorido
e babas de amizade.
descola por ventos
e facilmente aterriza em sonhos.
borboleta tem correspondência directa
com a palavra alma.
para existir usa liberdades.
desconhece o som da tristeza
embora saiba afogá-la.
usa com afinidades
o palco da natureza.
nega maquilhagens isentas
de materiais cósmicos. como digo:
pó-de-lua, lápis solar
castanho-raíz, cinzento-nuvem.
borboleta dispõem de intimidades
com arcos íris
a ponto de cócegas mútuas.
parra beijar amigos e vidas ela usa olhos.
borboleta é um ser
de misteriosos nadas.


LÁGRIMA, GOTA LÁGRIMA (OU: TODAS DESPEDIDAS DO MUNDO)

lágrima é uma sensação que escorrega.
mundo está seco de coisas e trans-sensações
assim a lágrima presta-se
a desressequir o mundo.
porque:mundo está duro;
mundo está pedinchar molhadezas
que só amor tem num bolso;
mundo está ainda grande e tão pequenino já.
lágrima, afinal,é uma carinhosa correcção do mundo
e tem pontes com a amizade.
porque:sinónimo sincero de amizade é celebração.
assim mesmo, ela, húmida.
bem húmida.













RITA E CARMEN/ "Tasca da Albertina",CR, PT







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Manuel querido, emocionou-me com as palavras,
uma declaração de afeto e amizade;
amigo, não tenhas dúvida,
oceanos não afastam as pessoas
quando eles não desejam isto!






Ana, Manuel, Rita , Margu e Carmen
BELÍSSIMO!

As razões do oleiro

A fama do oleiro corria por todo o Jequitinhonha e seus afluentes. Os potes de sua queima tiniam como se fossem de bronze, e neles a garapa esfriava de doer os dentes. De panelas e moringas, pouco dizer: disputavam-se nas feiras em leilão. Em Virgem da Lapa vi um fazendeiro dar 250 mil réis, do tempo do câmbio a 18, por uma moringuinha sapeca, cheia de flores de gravatá, de pintura difícil. No Rio do Prado, fazendeiro forte e de muita letra, José Amâncio me mostrou, entre cristais de Murano e louças de Limoges, a coleção de peças do velho oleiro, entre elas uma rara, de encomenda: jarra em forma de anjo, com a língua pra fora, onde meu hospedeiro guardava seus ingredientes de ânimo: raízes de catuaba, de mamoninha-mansa e fava-roxa; glândulas secas de mocó-das-pedras (tiro e queda, segundo entendidos). Dizia José Amâncio que, dentro da vasilha, os recursos ganhavam mais força. "Prá dizer a verdade, é só olhar pra esse anjo safado, para arranjar disposição. O remédio já vem quente lá de dentro."

Com tanta fama e justo valor, andei anos na idéia de conhecer o homem, identificado na região como Medinho-Barrista. Mas não era fácil: Arquimedes Tomás de Braga Velho não cultivava as glórias deste mundo, e detestava qualquer raça de admiradores. "Ele não dá intimidade pra qualquer um"- me advertira José Murta, dito Zé Filó, que, quando menino, o conhecera já de cabelos brancos. "É melhor você chegar lá de desentendido. Faz de conta que está campeando outra coisa, que é vendedor de bíblia ou comprador de mel. Uma bestagem qualquer, pra não dar na vista".
José Murta me deixou na encruzilhada entre Turmalina e Veredinha; daí tive que me arrumar com uma besta tão lerda e incompetente que merecia ser azêmola, alugada a cinco mil réis por dia, incluindo sela completa, mas de um estribo só, o do pé esquerdo, pra facilitar a montada; e, fora as esporas, que me custaram mais 400 réis por jornada.
Medinho descobriu logo que eu vinha com impostura, mas arriou o facho quando eu lhe dei notícias do que trazia no alforge: cachaça de Itacambira, de cana rosa, destilada em alambique de barro, na fazenda de Sebastião Lage. "Conheço o alambique. Fui eu que fiz.". Entrei na sua oficina de oleiro, bem na barranca do Rio Fanado, junto ao alvo barreiro de se servia. Um burro meditava enquanto circulava em volta do cilindro, amassando e amolecendo a argila. Quando deparou com a besta de aluguel, parou um pouco e os dois se olharam resignados.
Medinho mandou que arrumassem cama para estada de dois dias, e me disse que eu tinha mãos boas para mexer o barro. Pena que, na minha idade, não dava para apanhar jeito.
- Este ofício é bom - resumiu, servindo-me a cachaça em tigelinha faceira - porque, na verdade foi Deus que inventou. Só que Deus teve má sorte: em vez de coisas, fez gente.
Observei-lhe que, sem gente, para que as coisas? Medinho disse que Deus podia ter feito coisas para admirá-las, em lugar de modelar o homem, que deu no que deu.
- Você sabe que, na verdade, o que o oleiro faz é cobrir o vento, o nada, porque uma peça de barro é isso: uma separação no vazio. Eu quando estou trabalhando, não penso no vaso, na vasilha: penso no espaço que eu estou tapando. Não foi o que Deus fez? O que ele fez foi isso, mudar a forma do vazio. Ou não foi mesmo? Aí eu não penso no barro, mas como vai ficar o canto do lugar que eu vou cobrir.
Medinho me mostrou, depois, a sua coleção particular.- Comecei no ofício aos 15 anos. Daqui a um mês faço 60. Tenho aí umas 16 mil peças, porque na Semana Santa não trabalho. Todos os dias fiz uma peça diferente, só para mim, para guardar dentro dela, o ar de cada manhã. Nunca vendo o que faço com minhas mãos descansadas da noite. Deixo para meu proveito. Depois é a vez dos outros.
Tenho algumas peças de Medinho. Mas não estão à venda.

Mauro Santayana (Folha de São Paulo, 30.10.1982)

quinta-feira, 18 de junho de 2009

CERÂMICA

"A cerâmica é a transformação da matéria, sua ascensão,
a prova do fogo: argila amolecida com água,
modelada pela mão humana,
queimada, tornada novo ser.
O barro é a matéria, mas o processo se realiza através do fogo,
o fascínio principal da cerâmica,
o mito da criação do homem e do mundo."



















“O homem amacia a terra,
alisa a água,
assopra o fogo,
procurando espaços,
formas e cores.
Porém, apaixonado e inexato,
reinventa as emoções”.









A QUEIMA,















ANTES,











DEPOIS,












RESULTADO












PARCERIA,















GRUPO



*****

quarta-feira, 17 de junho de 2009

"INVERNO"

( Antonio Cicero /Adriana Calcanhotto)
No dia em que fui mais feliz
Eu vi um avião
Se espelhar no seu olhar até sumir
De lá pra cá não sei
Caminho ao longo do canal
Faço longas cartas pra ninguém
E o inverno no Leblon é quase glacial
Há algo que jamais se esclareceu
Onde foi exatamente que larguei
Naquele dia mesmo
O leão que sempre cavalguei?
Lá mesmo esqueci
Que o destino
Sempre me quis só
No deserto sem saudade, sem remorso só
Sem amarras, barco embriagado ao mar
Não sei o que em mim
Só quer me lembrar
Que um dia o céu reuniu-se à terra um instante por nós dois
Pouco antes de o ocidente se assombrar.

*****

Dia 17.06.2009
O por do sol começou,
Prometia.........
Pus-me a acompanhá-lo, insistentemente,
Como se me pudesse ele dizer-me alguma coisa.
Raros momentos, minutos,
Beleza rara,
Fulgás como a vida,
Também raros momentos.



Ao amigo Luis,
por lembrar-me que o sol volta a nascer e a se por, sempre,
No inverno,
Nos momentos de tristeza e dor,
abrindo-nos uma janela, uma porta
e muitas vezes a própria vida.








































































































domingo, 14 de junho de 2009

"FERREIRA DA SILVA" , um exemplo de vida.
Aos 80 anos, mostrou-me coragem, entusiasmo,
alegria, criatividade, bom-humor, tolerância,
e a certeza de que "tem cada idade a sua juventude".

Gostava de poder ter convivido mais com o Ferreira,
ouvir tuas palavras, histórias e principalmente....
ver seus projetos para o futuro!

PORTUGAL, CALDAS DA RAINHA, CENCAL

Tive momentos especiais no CENCAL (Centro de Formação Profissional para a Indústria Cerâmica), onde durante os meses de março, abril e maio,
tive o privilégio de ser uma aprendiz da cerâmica.
Conhecí formadores excepcionais, fiz amigos para guardar,
vivi meu singular e meu plural.
Naqueles dias, sorri, emocionei-me, surpreendí-me,
tive as melhores e as mais difíceis lembranças,
momentos de emoção intensa, saudade, solidão, tristeza,
plenitude, solidariedade, companheirismo,
mêdo, decepção, orgulho, prazer, alegria,
e a certeza de que vivi intensamente,
vibrando com cada "quarto" de hora disputado.
Ainda no Cencal, tive o prazer de transmitir
um pouco do meu conhecimento,
tendo meus professores como "alunos",
dando-me a certeza que estamos nos dois "sítios", sempre!
Tive no grupo a presença de três angolanos
que tinham aulas como eu.








PÁTIO DO CENCAL,
ONDE MUITAS VEZES BUSCAVA UM POUCO DE SOL!













"ALUNOS" MAIS QUE QUERIDOS!