sábado, 31 de outubro de 2009

Recebí para meu blog, um "sêlo" de "Instigante".
Foi-me oferecido pelo Carlos Albuquerque,
CONVERSAS DAQUI E DALI, o qual admiro muito!
Agradeço ao Carlos pela imensa alegria que senti,
pelo teu gesto de sensibilidade e carinho,
diante de Blogs excepcionais, dentre os muitos que também sigo.
Percebo como o reconhecimento, a identificação,
dão-nos mais força e desejo em continuar a escrever.
Abraços e obrigada Carlos.
“Blogs que, além da assiduidade das postagens e do esmero com que são feitos,
provocam-nos a necessidade de reflectir, questionar, aprender e
– sobretudo – que instigam almas e mentes à procura de conhecimento e sabedoria.”

Antônio Lôbo Antunes

Ouvi a entrevista que ALA deu ao Mario Crespo, na SIC,
quando do lançamento do seu último livro :
“Que Cavalos São Aqueles Que Fazem Sombra No Mar?” .
Difícil seria não emocionar-me diante de tanta sensibilidade,
emoção, encontro, além da minha identificação e admiração
pelo homem e escritor.
Muitas vezes, ao escutá-lo refletir sobre o cotidiano,
sobre as pessoas, sobre o universo português,
e sobretudo sobre o homem,
sou tomada pelo raro sentimento de identificação,
como se sua palavras ecoassem e pudessem ser entendidas
através dos "vasos comunicantes" que ele tão bem fala.
O nosso sonho, como diz ele, é que possamos ser entendidos
mesmo sem palavras.
Vai aqui parte da entrevista que ele deu a Lusa,
e o link para ouvir a entrevista na SIC.
Aproveitem que vale muito a pena,
se calhar uma das coisas mais ternas que já ouví.


Lobo Antunes apresenta "Que Cavalos são Aqueles que fazem Sombra no Mar?"
"Criar - ou tentar criar - é um ofício de trevas",

defendeu hoje, António Lobo Antunes,
no lançamento do seu novo livro,
"Que Cavalos são Aqueles que fazem Sombra no Mar?".
O escritor apresentou o livro esta quinta-feira
no Jardim de Inverno do Teatro São Luiz em Lisboa.

"Criar é um ofício de trevas", diz António Lobo Antunes
Depois de afirmar que "é muito difícil falar de um livro"
e de citar o seu falecido amigo José Cardoso Pires,
que dizia que nenhum escritor gostava de falar
sobre o que escrevera, Lobo Antunes tentou,
embora admitindo: "Há ali uma parte que me escapa".
Falou de um verso de Ovídio que sempre o obcecou
e continua a obcecar - "Lentos, lentos ide, ó cavalos da noite"
- do seu quadro preferido, "As Meninas" de Velásquez,
e de uma frase de Einstein citada pelo pianista Alfred Brendel:
"É preciso fazer as coisas o mais simplesmente possível
mas não mais simplesmente do que isso".
Observou, depois, que
"a arte é a nossa única hipótese de vitória sobre a morte".
"Daí o medo que existe da arte -
é que ela contém em si uma outra forma de olhar para as coisas,
que nós recusamos.
Então, é muito tranquilizador as telenovelas,
aquilo a que chamam 'literatura light',
que não sei o que é...
todas essas formas de expressão de sentimentos que nos impedem,
de facto, de entrar no íntimo de nós", referiu.
Editado pela Dom Quixote, do grupo Leya,
"Que Cavalos são Aqueles que fazem Sombra no Mar?"
foi apresentado pela vice-reitora da Universidade de Coimbra,
Cristina Robalo Cordeiro, amiga de Lobo Antunes, com sala cheia.
A Professora catedrática começou por falar de toda a obra do escritor,
para atribuir o seu sucesso
a "um paradoxo de enunciação relativamente simples:
os romances de Lobo Antunes fascinam apesar de nos incomodarem e,
em larga medida, fascinam porque nos incomodam".
Considerando que "estes cavalos saem
da mesma matriz que alimentou os livros precedentes",
Cristina Robalo Cordeiro sustentou que,
"em modo sempre obsessivo,
são três as grandes oposições que marcam o texto,
como motivos estruturantes e configuradores".
"A primeira - enumerou - incide no próprio tecido textual que,
embora desenhado pelas forças da polifonia e do caos,
da dissecação de figuras disfóricas e da obstinação de memórias labirínticas,
tão nossas conhecidas,
controla o fluxo verbal em rigorosa ordenação compositiva".
A segunda oposição - prosseguiu
- "desorienta a leitura e instaura uma 'estética do desprazer',
provocando no leitor uma oscilação entre o desconforto e a fruição".
Por fim, a terceira oposição
- aquela que a académica classificou como "a mais surpreendente"
- "inscreve-se de imediato no título:
porquê enunciar com uma frase tão lírica
o universo sórdido da triste realidade humana
em que a narrativa nos fará entrar?".
A terminar a sua intervenção,
António Lobo Antunes anunciou a intenção
de "continuar a viver com a orgulhosa humildade"
com que sempre tem vivido e concluiu com uma frase de Newton:
"Não sei o que o futuro pensará de mim.
Sempre me imaginei uma criança a brincar na praia,
que às vezes encontra um seixo mais polido,
uma conchinha mais bonita,
enquanto o grande oceano da verdade permanece intacto à minha frente".
Lusa

http://sic.sapo.pt/online/video/informacao/NoticiasCultura/2009/10/que-cavalos-sao-aqueles-que-fazem-sombra-no-mar-lobo-antunes-a-conversa-com-mario-crespo.htm

http://sic.sapo.pt/online/video/informacao/NoticiasCultura/2009/10/criar-e-um-oficio-de-trevas-diz-antonio-lobo-antunes.htm

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Insensatez


Ah, insensatez que você fez
Coração mais sem cuidado
Fez chorar de dor o seu amor
Um amor tão delicado
Ah, por que você foi fraco assim

Assim tão desalmado
Ah, meu coração, quem nunca amou
Não merece ser amado
Vai, meu coração, ouve a razão

Usa só sinceridade
Quem semeia vento, diz a razão
Colhe sempre tempestade
Vai, meu coração, pede perdão

Perdão apaixonado
Vai, porque quem não pede perdão
Não é nunca perdoado
(Vinicius e Tom Jobim)

********

Quem canta, seus males espanta........
O sabor de eu sempre vou te amar,
Por toda a minha vida.
Canta.

Tom Jobim e Vinicius,
a maior poesia em forma de canção:



http://www.youtube.com/watch?v=PHIe9B5plDI&feature=related










Praia de Corumbau
Lembra-te

Lembra-te
que todos os momentos
que nos coroaram
todas as estradas
radiosas que abrimos
irão achando sem fim
seu ansioso lugar
seu botão de florir
o horizonte
e que dessa procura
extenuante e precisa
não teremos sinal
senão o de saber
que irá por onde fomos
um para o outro vividos


Mário Cesariny, in "Pena Capital"













Final de tarde
setembro/2009


Em Todas as Ruas te Encontro

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco

Mário Cesariny, in "Pena Capital"
PS/Bahia

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Nevermore

Ah, lembrança, lembrança, que me queres? O Outono
Fazia voar os tordos pelo ar desmaiado
E o sol dardejava um monótono raio
No bosque amarelado onde a nortada ecoa.
A sonhar caminhávamos os dois, a sós,
Ela e eu, pensamento e cabelos ao vento.
De repente, fitou-me em olhar comovente:
«Qual foi o teu mais belo dia?» disse a voz
De oiro vivo, sonora, em fresco timbre angélico.
Um sorriso discreto deu-lhe a minha réplica
E então, como um devoto, beijei-lhe a mão branca.
— Ah! as primeiras flores, como são perfumadas!
E como em nós ressoa o murmúrio vibrante
Desse primeiro sim dos lábios bem-amados!
Paul Verlaine, in "Melancolia"
Salvador - Bahia

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Ao meu pai, sempre presente em minha vida.




Ausência


Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada,
aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
Carlos Drummond de Andrade, in 'O Corpo'

Meu Pai era alegre e sorridente, cheio de vida, sempre.
Quase nunca, a meus olhos, o vi titubear diante das dificuldades.
Otimista, cheio de projetos ainda na velhice,
Mas pouco sorria nas fotografias, dizia sempre.
Nesta foto, tirada por meu irmão em 2000,
ele aparece tão risonho...
Ao ver supreendeu-se, e perguntou ao meu irmão
como ele conseguira esse momento?
Ficou surpreendido, pois na sua memória
não estava esse momento registrado.
Meu irmão então lhe disse que fizera um truque,
que o deixou ainda mais admirado:
filmou meu pai em momentos de descontração com a familia,
e dali tirou esta fotografia, uma das melhores e mais espontânea
que já vi......................

Quando da morte do meu pai eu procurava documentos nas suas gavetas,
encontrei cópias e cópias do poema de Drumond "As Sem-Razões do AMOR"

As Sem - Razões do Amor

Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
E nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
E com amor não se paga.
Amor é dado de graça
É semeado no vento,
Na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
E a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
Bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
Não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
Feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
E da morte vencedor,
Por mais que o matem (e matam)
A cada instante de amor.















Fernando (26/0utubro/1923 - 14/Agosto/2008)