quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Salvador - Bahia

A VINÍCIUS DE MORAIS, ninguém melhor que ele fala do amor!
A Carlos por apreciá-lo com profundidade.
Ponho aqui os meus poemas preferidos, representando todos.
Ponho aqui a canção que queria compor,
e que tantas vezes me emocionei ao cantar,
composta por Vinicius e Tom Jobim.

Eu Sei Que Vou te Amar

Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida eu vou te amar
Em cada despedida eu vou te amar
Desesperadamente, eu sei que vou te amar
E cada verso meu será
Prá te dizer que eu sei que vou te amar
Por toda minha vida
Eu sei que vou chorar
A cada ausência tua eu vou chorar
Mas cada volta tua há de apagar
O que esta ausência tua me causou
Eu sei que vou sofrer a eterna desventura de viver
A espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida
OUÇA-A e emocione-se como eu:


Soneto do Amor Como Um Rio
Este infinito amor de um ano faz
Que é maior do que o tempo e do que tudo
Este amor que é real, e que, contudo
Eu já não cria que existisse mais.
Este amor que surgiu insuspeitado
E que dentro do drama fez-se em paz
Este amor que é o túmulo onde jaz
Meu corpo para sempre sepultado.
Este amor meu é como um rio; um rio
Noturno, interminável e tardio
A deslizar macio pelo ermo...
E que em seu curso sideral me leva
Iluminado de paixão na treva
Para o espaço sem fim de um mar sem termo.

Sinto-me só como um seixo de praia
Vivendo à busca no cristal das ondas,
Não sei se sou o que não sou. Pressinto
Que a maré vai morar no fundo d’alma.

Calo-me sempre se te escuto vindo
Marulho de incerteza e de agonia;
Há crenças deslizando nos meus traços,
Molhando a estátua do meu sonho antigo.

Declino-me nas frases dos rochedos
Nas pérolas de som do inesquecer
Na incrível sombra da montanha adulta.

E ao me curvar ao peso da memória,
Descubro meu reflexo obscuro
Num soneto de espumas inexatas.

Soneto do Amor Total

Amo-te tanto meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.
Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.
Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.
E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.


Soneto da Fidelidade

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes e com tal zelo, e sempre e tanto
que mesmo em face do maior encanto
dele se encante mais meu pensamento.
Quero vive-lo em cada vão momento
e em seu louvor hei de espalhar meu canto
e rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou ao seu contentamento.
E assim quando mais tarde me procure
quem sabe a morte, angustia de quem vive
quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Soneto de Montevidéu

Não te rias de mim, que as minhas lágrimas
São água para as flores que plantaste
No meu ser infeliz, e isso lhe baste
Para querer-te sempre mais e mais.
Não te esqueças de mim, que desvendaste
A calma ao meu olhar ermo de paz
Nem te ausentes de mim quando se gaste
Em ti esse carinho em que te esvais.
Não me ocultes jamais teu rosto; dize-me
Sempre esse manso adeus de quem aguarda
Um novo manso adeus que nunca tarda
Ao amante dulcíssimo que fiz-me
À tua pura imagem, ó anjo da guarda
Que não dás tempo a que a distância cisme.
Soneto de agosto

Tu me levaste, eu fui...
Na treva, ousados
Amamos, vagamente surpreendidos
Pelo ardor com que estávamos unidos
Nós que andávamos sempre separados.
Espantei-me, confesso-te, dos brados
Com que enchi teus patéticos ouvidos
E achei rude o calor dos teus gemidos
Eu que sempre os julgara desolados.
Só assim arrancara a linha inútil
Da tua eterna túnica inconsútil...
E para a glória do teu ser mais franco
Quisera que te vissem como eu via
Depois, à luz da lâmpada macia
O púbis negro sobre o corpo branco.
Soneto a Quatro Mãos
Tudo de amor que existe em mim foi dado.
Tudo que fala em mim de amor foi dito.
Do nada em mim o amor fez o infinito
Que por muito tornou-me escravizado.
Tão pródigo de amor fiquei coitado
Tão fácil para amar fiquei proscrito.
Cada voto que fiz ergueu-se em grito
Contra o meu próprio dar demasiado.
Tenho dado de amor mais que coubesse
Nesse meu pobre coração humano
Desse eterno amor meu antes não desse.
Pois se por tanto dar me fiz engano
Melhor fora que desse e recebesse
Para viver da vida o amor sem dano.

Ternura

Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade
o olhar extático da aurora.


Soneto de contrição

Eu te amo, Maria, eu te amo tanto
Que o meu peito me dói como em doença
E quanto mais me seja a dor intensa
Mais cresce na minha alma teu encanto.
Como a criança que vagueia o canto
Ante o mistério da amplidão suspensa
Meu coração é um vago de acalanto
Berçando versos de saudade imensa.
Não é maior o coração que a alma
Nem melhor a presença que a saudade
Só te amar é divino, e sentir calma...
E é uma calma tão feita de humildade
Que tão mais te soubesse pertencida
Menos seria eterno em tua vida.

SONETO À LUA
Por que tens, por que tens olhos escuros
E mãos lânguidas, loucas e sem fim
Quem és, que és tu, não eu, e estás em mim
Impuro, como o bem que está nos puros?
Que paixão fez-te os lábios tão maduros
Num rosto como o teu criança assim
Quem te criou tão boa para o ruim
E tão fatal para os meus versos duros?
Fugaz, com que direito tens-me presa
A alma que por ti soluça nua
E não és Tatiana e nem Teresa:
E és tampouco a mulher que anda na rua
Vagabunda, patética, indefesa
Ó minha branca e pequenina lua!


SONETO DE SEPARAÇÃO
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

terça-feira, 1 de setembro de 2009




Foi para ti
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada
e para ti foi tudo
Para ti criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que talhei
o sabor do sempre
Para ti dei voz
às minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em nós
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
eu descia em teu peito
para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos
vivendo de um só
amando de uma só vida

Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas
AINDA SAUDADE..............


"A casa da saudade chama-se memória:
é uma cabana pequenina a um canto do coração".
(Coelho Neto)






Mosteiro da Batalha, Portugal
Ultima despedida!






"Se tens um coração de ferro, bom proveito.
O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo o dia".
(José Saramago)


E POR FALAR EM SAUDADES...........................
Trago Maria (O Cheiro da Ilha) novamente a mim.
Bem vinda, sempre.

UM AMOR SEM MEDIDA

Não meço as saudades que te tenho.
Não posso. Porque não têm medida.
Já sequei as lágrimas que me faziam rio.
Agora só o brilho do olhar me denuncia.
Todos os poemas de amor que escrevo são para ti.
Porque foste o amor primeiro.
E porque amor primeiro, o mais menino, o mais verdadeiro.
O mais criança, ainda. Hoje.
Por que tem que ser assim, por que foi assim, não sei.
Porque te perdeste de mim se eu nunca te perdi…
E porque me perdi de ti se tu nunca me perdeste…
Ah, se eu soubesse responder…
Chovo, outra vez.
Não meço as saudades que te tenho.
Porque não posso.
Porque o nosso amor é um amor sem medida…
Respirei, outra vez.
Às vezes sufoco de me ler. Ou de te ler. Ou de ler por aí…
Agora respiro!

Quando chego ao Blog do Rogério, está lá também o que eu já havia postado, sem saber....e por falar em saudades!
Estamos todos sintonizados estes dias, na saudade!


E por falar em saudade...
(Rogério Charraz/Tubo de Escape blog)

«Essa palavra saudade. Ninguém a quer mas nós, portugueses, nascemos com ela.
Sempre desconfiei de positivismos,
mas sobre este assunto sou particularmente feroz: é atavismo nacional e mais nada.
Não há ciência que o possa explicar.
A parte bonita - e ao mesmo tempo triste -
é que espalhámos a saudade como uma pandemia.
E no entanto não a conseguimos traduzir, a não ser no momento em que a sentimos.
De nada valem os esforços para lhe arranjar étimos distantes:
a teoria mais aceite é que venha do latim solitas,
solitatis (para solidão) e que tenha sofrido influência dos vocábulos latinos
que significam saúde ou saudar.
Pouco importa: é objectivamente intraduzível.
Há cinco anos atrás uma empresa de tradução britânica,
a Today Translations, elaborou uma lista das palavras mais difíceis de traduzir.
"Saudade" ficou em sétimo lugar.
A concorrência, há que dizê-lo, era de peso:
em primeiro lugar ficou a expressão congolesa "ilunga",
que quer dizer mais ou menos (espero que tenham tempo para o que se segue)
"pessoa que está disposta a perdoar maus tratos pela primeira,
pela segunda mas nunca pela terceira vez". Justo vencedor.
Outra difícil era a polaca "radioukacz": "alguém que trabalhou como telegrafista para os movimentos de resitência ao domínio soviético nos países da Cortina de Ferro".
Mais perto de nós, em todos os sentidos, está outra palavra intraduzível,
a árabe "altaham", que designa um tipo de tristeza profunda.
E depois vem a saudade: em sétimo lugar, sim
- mas a única cujo significado não é consensual.
Mas não é só a dificuldade de tradução ou descrição
que torna difícil falar de saudade sem apelar a artes poéticas ou,
no pior dos casos, ao lugar-comum.
É o anacronismo* do próprio sentimento que a palavra evoca. S
audade, pensava eu, já não pertence a este tempo de comunicações rápidas,
prácticas mas impessoais. (...)
A saudade, neste espírito do tempo em que imperal emails,
redes sociais e sms escritos em estranho dialecto, corre o risco de extinção.
As gerações mais novas não têm tempo para sentir saudades,
quando a distância pode ser vencida através de um computador e uma web cam.
Como é hábito, não tenho razão.
A saudade existe, e está viva nos novos portugueses.
Encontra-se nos lugares mais improváveis, mas é a mesma.
Talvez apareça noutra forma, em versão 2.0, mas está lá e é fácil prová-lo.
Tome-se o caso da mais popular rede social da Web, o Facebook.
Mais de 124 milhões de almas comunicam entre si todos os dias através desta ferramenta.
É um óptimo lugar para reencontrar amizades que se julgavam perdidas,
ou despertar paixões que se julgavam dominadas. (...)
Pois é aqui que a saudade também vive.
Os utilizadores não portugueses do Facebook
têm comentários típicos às memórias que lhe são apresentadas:
"Lembro-me bem desse dia: grande bebedeira",
ou outras constatações objectivas são o limite a que se atrevem.
Os portugueses não: vêem um lugar, uma pessoa, uma canção e a resposta é imediata:
"Que saudades!"(...)Ter saudade não é privilégio nem exclusivo nacional.
Nós apenas nascemos assim.(...)
Bernardim Ribeiro escreve o mesmo, de forma ainda mais bela,
no Menina e Moça: "[...] a tanta tristeza cheguei,
que mais me pesava do bem que tive que do mal que tinha."
»Extracto da crónica "Essa palavra saudade", de Nuno Miguel Guedes,
publicada na revista Nós Saudosistas, que acompanhava o jornal i.
Como português de gema que me assumo,
dedico este texto a todos aqueles de quem sinto saudades neste momento.
Aos que já partiram deste mundo.
Aos que vivem fisicamente longe (de Vilar Formoso, ao Alentejo e arredores).
Aos que moram perto mas que por diversas razões têm estado longe.
Aos que estão de férias.
Aos que estão em recuperação ou em refúgio.
A todos os que me povoam o meu pensamento amiúde... que saudades!
Nota 1: Fiquei a pensar se serei ou não "ilunga"...
Nota 2: Para os que, como eu, não sabiam o que é um anacronismo,
aqui vai:*anacronismos. m.1. Erro cronológico.
2. Coisa a que se atribui uma época em que ela não tinha razão de ser.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

" PARA HAVER FELICIDADE
É PRECISO QUE A SAUDADE
VÁ BATER NOUTRO LUGAR......."
(Joubert de Carvalho)



CEGARAM-ME, TUAS PALAVRAS,
DEIXEI DE TUDO VER.
OS DIAS ERAM ETERNOS,
O SOL NUNCA SE PUNHA, QUASE SEMPRE,
A LUA JAMAIS ACABAVA,
E MEU AMOR ERA QUASE ETERNO.
CEGARAM-ME, TUAS PALAVRAS.
(CARMEN BASTOS)