Foi para ti
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada
e para ti foi tudo
Para ti criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que talhei
o sabor do sempre
Para ti dei voz
às minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em nós
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
eu descia em teu peito
para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos
vivendo de um só
amando de uma só vida
Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas
PARA TI envio daqui, tão longe ( e tão perto ) um forte abraço.
ResponderExcluirObrigado pela visita ao meu blog e pelo comentário gentil.
ResponderExcluirMúsica brasileira? Uma paixão sem tempo. Vinicius, Chico, Bethânia, Gal, Ellis Regina, Maria Creuza, Toquinho, Baden Powell, tantos outros, sei lá...! Não só a música mas a poesia que se canta, sobretudo quando vem de Vinicius ou Chico. Quando era adolescente, naquela fase dos bailes de Sábado à noite, era a música nordestina que me entusiasmava! Lá dançava eu o baião do inesquecivel Luiz Gonzaga, ou o frevo, até o dia chegar! Agora, também passo, de quando em vez, pelo Zeca Pagodinho!
Poesia de Mia Couto - linda. Este escritor moçambicano também vive nas minhas estantes, ao lado, de entre outros, do angolano Pepetela (já leste a parábola do Cágado Velho?), Garcia Marquez, Saramago, Lobo Antunes (menos) Garcia Lorca...
Desculpa a extensão do comentário, mas chegar ao teu blog foi um encontro feliz. Um daqueles momentos fugazes que é preciso agarrar! Coloquei um link no meu.
Abraços deste lado do mar
Não sei se conheço a parábola, mande-a por favor.
ResponderExcluirPodes escrever quanto quiseres, será um prazer, sempre.
Vou fazer um link também,posso?
Bjs