sábado, 18 de julho de 2009

PARATY - CHINA

"A literatura chinesa estreia na FLIP
com o escritor Ma Jian e a jornalista Xinran,
ambos radicados na Inglaterra,
cujos livros fazem retratos críticos de uma China
pouco condizente com a imagem de liderança global a que o país aspira.
Para a escritora Xinran, autora de "As boas mulheres da China",
as novas gerações estão desconectadas da história e das tradições do país.
Ela criticou a sede de novidade,
consumo e transformação por que passa o país.
Xinran comparou o país a um “retrato de Picasso”,
em que os elementos estão fora do lugar, como numa colagem.
Seu livro mais recente, Testemunhas da China,
traz depoimentos de chineses que viveram
a Revolução Cultural de Mao Tse-tung". (Blog FliP)

"As boas mulheres da China" é o título do livro
da jornalista chinesa Xinran
que foi apresentadora de um programa de rádio em Nanquim
até por volta de 1997, denominado "Palavras na brisa noturna".
Nele, discutia aspectos do cotidiano e dava conselhos aos ouvintes.
Fez tanto sucesso que começou a receber inúmeras cartas de mulheres,
contando os dramas pessoais. Xinran reuniu, nessa obra, algumas das histórias que chegaram ao conhecimento a partir daquelas correspondências.
São narrativas contundentes e chocantes a respeito da condição feminina
na China, sob o regime socialista.Em época de Revolução Cultural,
do presidente Mao Tse Tung, para um reafirmamento das ideias marxistas.
Trata-se do primeiro livro da autora, que é, atualmente,
professora na Universidade de Londres. (Wikipédia)

Assistí em pré-estreia a peça de Fabio Porchat,
"Palavras na Brisa Noturna" baseada no livro da escritora Xinran.
Apesar do teatro improvisado, a peça foi surpreendente.
A força, determinação e entusiasmo de Fabio Porchat e elenco,
foram emocionantes.
Encontrei duas das atrizes nas ruas de Parati e fiz-lhes o elogio merecido,
falando do meu entusiasmo com a força da interpretação.
Quem vê Fabio Porchat fazendo comédia em Zorra Total,
surpreende-se com o intimismo apresentado na peça.



"Fábio Porchat é ator, diretor e autor.
Com apenas 25 anos, formado pela CAL,
tem desenvolvido uma carreira ligada ao humor
com especial ênfase no estilo Stand up Comedy.
É roteirista da TV Globo há três anos.
Apesar da pouca idade, Fabio Porchat é ator de teatro,
roteirista do programa global “Zorra Total”,
apresentador e comediante do espetáculo “Comédia em Pé”,
que completa dois anos em agosto".

"
Flip 2009: Lágrimas para fazer pensar
O rosto lambuzado de lágrimas, Mayra Villela balançava a cabeça em sinal afirmativo enquanto ouvia as palavras de Xinran Xue.
Mayra é assistente de direção da peça "Palavras na brisa noturna",
um texto do carioca Fábio Porchat livremente inspirado no livro

"As boas mulheres da China" (Companhia das Letras).
A equipe da peça, se reuniu ontem com Xinran
numa pousada de Paraty para falar sobre as histórias recolhidas
e escritas por ela, fortes relatos sobre as vidas de mulheres chinesas
vítimas de violência. O que seria uma breve conversa de uma hora
virou um encontro emocionado, que se estendeu pelo almoço
e terminou com a escritora convidando todos a viajarem para a China.
Xinran disse que o importante do seu trabalho

é abrir uma possibilidade de mudança.
- Nunca me sinto como uma heroína por ter feito esse trabalho -

disse a jornalista, que teve que deixar a China por causa das histórias.
- O que sinto é que fiz muitas amigas, e, como amiga,
consegui fazer com que algumas dessas mulheres vivessem mais,

e vivessem melhor.
Quando você está angustiado, precisa de um amigo.
Muitas mulheres nunca tiveram isso. Por isso tantas se mataram.
Anteontem à noite, ela assistira a uma pré-estreia da peça em Paraty,
e ficara ela mesma abalada. Tanto que, depois, quando andava pela cidade,
um policial veio lhe perguntar se estava tudo bem.
- Mas o importante não é só o choro - disse.
- O choro é importante, porque lava a alma.
Mas há uma postura muito segura, de encarar isso apenas como histórias tristes que aconteceram com algumas mulheres na China.
Acho que, como elas, as mulheres do Brasil também precisam dessa atenção.
Mais do que fazer as pessoas chorar, temos que fazê-las pensar.
Fazendo as vezes de tradutor do encontro, Porchat,
que além de autor é diretor da peça,
respondeu que ela não era apenas um espetáculo,

mas tinha uma intenção política.
A produção, contou, está combinando apresentações seguidas de debates para associações de mulheres vítimas de violência.

Além de tentar explicar como entende seu trabalho,
Xinran quis saber das atrizes da peça quais histórias

eram mais importantes para elas.
- Quando eu estava lendo seu outro livro, "Enterro celestial",
eu ficava chorando tanto que meu marido falou para eu parar de ler -

riu Regina Gutman, que faz um dos cinco monólogos da peça.
Depois de ouvir as atrizes,
Xinran disse que pretendia ir ao Rio para acompanhar os ensaios
e conversar ainda mais sobre as histórias e a China.
Em seguida, disse que precisava das medidas do elenco,
porque pretendia ajudar com o figurino,
e sugeriu algumas mudanças na trilha musical.
- Cometemos algum erro na música? - Porchat perguntou.
- Acho que sim, pequenos, mas é inevitável.
Vocês não têm como conhecer minuciosamente a China,
assim como eu venho ao Brasil com uma imagem do país,
mas na verdade existem vários países dentro do Brasil - Xinran respondeu.
Ela prometeu também álbums de fotos da China:
- Estudando as imagens vocês podem aprender detalhes

sobre a postura corporal das mulheres chinesas.
Diferenças de classe. Como os ombros de uma mulher bem educada,
por exemplo, são diferentes dos de uma mulher do campo.
Porchat conta que leu o livro de Xinran há dois anos,

mas quem teve a ideia de transformá-lo numa peça foi sua mulher,
Patrícia Vasquez, que faz parte do elenco.
- Imediatamente comecei a pensar em quem chamar, como montar.
Nos meses seguintes escrevi os cinco monólogos,
partindo sempre dos enredos da Xinran.
Discuti os textos com o enredo e quanto eles estavam prontos
enviei uma versão em chinês para ela.
Mas ela nunca respondeu esse email e eu comecei a ficar preocupado,
achando que ela tinha odiado.
Quando nos encontramos aqui em Paraty, foi um alívio enorme".

(Miguel Conde, de Paraty)




Que mitos, meu amor, entre os lençóis:
O que tu pensas gozo é tão finito
E o que pensas amor é muito mais.
Como cobrir-te de pássaros e plumas
E ao mesmo tempo te dizer adeus
Porque imperfeito és carne e perecível
E o que eu desejo é luz e imaterial.“(Hilda Hilst)

TODAS AS HISTÓRIAS SE PARECEM!

SOPHIE CALLE E GREGOIRE BOUILLIER
Outra mesa muito interessante na FLIP, digo mesmo inusitada,
foi a que trouxe os dois autores acima.
"Na primeira vez que os ex-namorados Sophie Calle e Grégoire Bouillier
se encontraram em público depois do fim do relacionamento,
a conversa entre os dois se concetrou na antiga relação
e na maneira como ambos reagiram ao rompimento.
Ambos responderam de maneira diferente à pergunta
sobre se a vida mudou depois que Sophie transformou a carta de separação em obra de arte. Grégoire disse “não”, Sophie, “sim”.
A separação resultou de um e-mail enviado por Grégoire.
Confusa com as palavras evasivas do namorado,
Calle decidiu mandar a carta para 107 mulheres interpretarem o que ele realmente quis dizer.
A artista escolheu mulheres de 107 profissões diferentes: revisora, cantora, atriz, bailarina, psicanalista, jornalista. “Não convidei nenhuma artista.
Nesse trabalho, a artista sou eu.” O resultado é o trabalho Prenez soin de vous (Cuide-se),
que recebeu como título as últimas palavras da carta.
Indagado pela plateia sobre por que tratou Sophie formalmente (por “vous” e não por “tu”), Grégoire disse que é assim que trata as mulheres que ama.
Sophie, por sua vez, disse que também trata assim os homens com quem se deita.
Os dois discordaram sobre a maneira que a relação terminou, mas concordaram sobre a qualidade das obras artísticas que falam do namoro: Prenez soin de vous,
e o livro O convidado surpresa, de Grégoire.
“Não concordo com o procedimento de Sophie, mas o resultado é incrível”, disse ele.
“O e-mail era de alguém que decide ir embora, mas não sabe como dizer isso”,
retrucou Sophie. “Mas não se tratava de vingança, mas um projeto artístico”.
Ao final, reconciliação pública pela arte e pela palavra". (Blog da FLIP)


Prenez soin de vous
(E-mail de Gregoire a Sophie)
Sophie,
Há algum tempo venho querendo lhe escrever e responder ao seu último e-mail.
Ao mesmo tempo, me pareceria melhor conversar com você
e dizer o que tenho a dizer de viva voz.
Mas pelo menos será por escrito.
Como você pôde ver, não tenho estado bem ultimamente.
É como se não me reconhecesse na minha própria existência.
Uma espécie de angústia terrível, contra a qual não posso fazer grande coisa,
senão seguir adiante para tentar superá-la, como sempre fiz.
Quando nos conhecemos, você impôs uma condição: não ser a “quarta”.
Eu mantive o meu compromisso: há meses deixei de ver as “outras”,
não achando obviamente um meio de vê-las, sem fazer de você uma delas.
Achei que isso bastasse; achei que amar você e o seu amor seriam suficientes para que a angústia que me faz sempre querer buscar outros horizontes e me impede de ser tranquilo e, sem dúvida, de ser simplesmente feliz e “generoso”,
se aquietasse com o seu contato e na certeza de que o amor que você tem por mim foi o mais benéfico para mim,
o mais benéfico que jamais tive, você sabe disso.
Achei que a escrita seria um remédio, que meu “desassossego” se dissolveria nela para encontrar você. Mas não. Estou pior ainda; não tenho condições sequer de lhe explicar o estado em que me encontro. Então, esta semana, comecei a procurar as “outras”.
E sei bem o que isso significa para mim e em que tipo de ciclo estou entrando.
Jamais menti para você e não é agora que vou começar.
Houve uma outra regra que você impôs no início de nossa história:
no dia em que deixássemos de ser amantes, seria inconcebível para você me ver novamente. Você sabe que essa imposição me parece desastrosa, injusta (já que você ainda vê B., R.,…) e compreensível (obviamente…); com isso, jamais poderia me tornar seu amigo.
Mas hoje, você pode avaliar a importância da minha decisão,
uma vez que estou disposto a me curvar diante da sua vontade,
pois deixar de ver você e de falar com você, de apreender o seu olhar sobre as coisas e os seres e a doçura com a qual você me trata são coisas das quais sentirei uma saudade infinita.
Aconteça o que acontecer, saiba que nunca deixarei de amar você da maneira que sempre amei desde que nos conhecemos, e esse amor se estenderá em mim e, tenho certeza, jamais morrerá. Mas hoje, seria a pior das farsas manter uma situação que você sabe tão bem quanto eu ter se tornado irremediável, mesmo com todo o amor que sentimos um pelo outro.
E é justamente esse amor que me obriga a ser honesto com você mais uma vez,
como última prova do que houve entre nós e que permanecerá único.
Gostaria que as coisas tivessem tomado um rumo diferente. Cuide de você.

Sucesso em Paris, Nova York e Veneza, o Ano da França no Brasil trouxe para São Paulo a exposição “Cuide de Você” (“Prenez soin de vous”) da artista conceitual, jornalista e fotógrafa francesa Sophie Calle, que transformou o fim de um romance em arte.
O mote da exposição foi o e-mail rompendo a relação.
Sophie Calle diz “É mais fácil realizar um projeto quando sofremos do que quando estamos felizes. Não sei o que prefiro: se é estar feliz com um homem ou fazer uma boa exposição”.
Em Salvador, a mostra será exposta no Museu de Arte Moderna da Bahia, de 22 de setembro a 22 de novembro








Mirante do Leme, RJ






RIO DE JANEIRO - ESTRÉIA 05.07.2009
O Rio nos esperava na volta de Paraty.
Difícil pensar que a beleza de Paraty e os dias cheios de calma e poesia
Poderiam ter tão forte concorrente!
Assim foram os dias no Rio de Janeiro,
de muito acolhimento e carinho,
como se estivéssem0s em casa.

Karla e Lilinha, "hospedeiras" maravilhosas,
amantes do Rio, e por isso também, excelentes anfitriães.
Somente o sentimento de amor nos faz tão inteiras no que fazemos.
Obrigada meninas, por nos fazerem ver o RIO,
"CIDADE MARAVILHOSA", ainda.
O Rio é lindo e continuará lindo, sempre!
Continua em mim o deslumbramento com a cidade,
os recortes da baía da Guanabara, e os morros que sobem e descem,
como se ao longe ouvíssemos Tom, Vinicius, Garota de Ipenema, Copacabana;
Também o mar e o luar dos mais belos que já ví.
Confiram os momentos maravilhosos e as ótimas companhias, é claro!





Galeão.














Karla, Carmen, Lilinha,
Tania e Milu.












COPACABANA, princesinha do mar!















IPANEMA e as "GAROTAS".





Envolví Drumond com meu sobretudo
e dei-lhe a ternura que sentí ao ler seus poemas.
Ouví que será ele o homenageado da próxima Flip.












João, Carmen e Milú,
encontro luso, com certeza!













Carla levou-nos para ver
"O Estrangeiro" com seu amigo Guilherme Leme.
Beleza de espetáculo e interpretação.
Texto Albert Camus /direção Vera Holtz










Lagoa Rodrigo de Freitas,
um lugar para se estar.












Na praia vermelha,
o luar desenhava o maior espetáculo da natureza.
















Ao observar a lua,
momentos de solidão e tristeza!













Até breve Rio!

sexta-feira, 17 de julho de 2009

PARATY - CAPÍTULO V "FLIP"

Prazer imenso ver e ouvir Lôbo Antunes.
Confirmar a admiração que tinha pelo escritor e pelo homem,
Cujas palavras ecoaram em momentos especiais,
e se fizeram palavras em mim.

ANTÔNIO LÔBO ANTUNES

Foi um dos destaques na FLIP deste ano.
Vencedor do Prêmio Camões em 2007,
é considerado um dos maiores prosadores lusitanos depois de Eça de Queirós.
Autor de clássicos como As naus,
Os cus de Judas e Meu nome é legião (seu livro mais recente publicado aqui),
o autor não vem ao Brasil desde 1983.

Um português brasileiro - Blog da FLIPJulho 05, 2009

O escritor português António Lobo Antunes arrancou aplausos calorosos da plateia, no noite de sábado, em conversa com o jornalista brasileiro Humberto Werneck. Um dos maiores ficcionistas da atualidade, o autor disse estar escrevendo em Paraty, relembrou suas raízes brasileiras, falou sobre os autores de que mais gosta (especialmente os brasileiros), definiu a arte de escrever como um trabalho “impossível”. Ao comentar sua obsessão em corrigir seus textos à exaustão, decretou: “O escritor aspira à arte total”.
O autor de Arquipélago da insônia e Meu nome é legião emocionou o público ao relembrar o avô, seu homônimo, que morou em Belém do Pará, a avó, para quem escrevia (e vendia) poemas religiosos, e o pai, que lia poesia brasileira, para ele e os irmãos, antes de eles dormirem.
“O Brasil para mim não é um país. São cheiros, é a comida, maneiras de viver e falar.
O Brasil é uma coisa íntima”.
Lobo Antunes rememorou as leituras dos autores brasileiros do século XIX: Machado de Assis, José de Alencar, Raul Pompeia, Aluízio Azevedo. “Foi onde mamei”, disse ele.
O escritor relembrou a relação com Jorge Amado e com João Ubaldo Ribeiro. “Era muito terno comigo, tinha uma relação filial. Me dizia: ‘Gosto de lamber meus filhotes’.”
A leitura de poesia, para o escritor, ensina mais que a prosa. “Li os grandes poetas brasileiros. Seus livros estavam em casa: Drummond, Cabral, Bandeira, Murilo Mendes, Jorge de Lima”. Para escrever bem é preciso cortar até osso, advérbios, adjetivos, que Cortazar chamava de “essas putas”.
Sobre a arte de escrever, disse que o livro é um organismo vivo e que todo grande livro é “uma reflexão profunda sobre a arte de escrever”. “Quando entra em você, ele se faz sozinho, deixa as mãos felizes.” Disse que é preciso ir até as camadas mais profundas de todas as superfícies superpostas da consciência. “Por isso gosto de escrever por cansaço.”
E ainda deu receita para escrever, aludindo ao futebol brasileiro: é preciso cabeça, para criar, e mãos para corrigir. “A cabeça cria e a mão corrige. Para quem quer ser escritor, recomendo observar Garrincha jogando. É preciso ter a cabeça de um Didi e a habilidade de um Garrincha.” E, citando Fernando Pessoa, disse que muitas vezes o escritor recebe textos prontos: “O escritor é emissário de um rei desconhecido”.


Festa literária internacional recebeu escritor português
António Lobo Antunes aplaudido de pé em Paraty

06.07.2009 - 11h30 Isabel Coutinho

"A amizade é como o amor. A gente encontra um homem e fica amigo de infância. Descobre um passado comum e há um princípio de vasos comunicantes que começa ali."
Foi assim que António Lobo Antunes iniciou a sua conversa com o jornalista e escritor brasileiro Humberto Werneck, no sábado à noite, na 7ª Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP). Primeiro ouviu sem dizer palavra a apresentação do jornalista - ignorando algumas perguntas que este lhe ia fazendo - mas quando resolveu começar a falar nunca mais parou. De tal maneira que, no final, nem houve espaço para perguntas do público.
Talvez por isso foi um António Lobo Antunes em estado de graça - divertido, bem-disposto, a fazer piadas, a contar histórias de infância, a aconselhar livros - aquele que em Paraty conquistou a multidão que o aplaudiu de pé no final da palestra que decorreu na Tenda dos Autores e tinha como título Escrever é preciso. Lá fora, na Tenda do Telão, os bilhetes para a sessão também estavam esgotados. E, tal como aconteceu já em outras conferências, havia gente de pé que não conseguiu bilhete. A meio da conferência, o escritor disse para a plateia: "Se vocês continuarem aplaudindo, não vamos sair daqui nunca".O escritor português tinha começado a ler o livro sobre Jayme Ovalle escrito pelo seu companheiro de palestra no dia anterior e isso fez com que voltasse atrás no tempo. A leitura das primeiras páginas desse livro lembraram-lhe a descrição da Belém do Pará do século XIX que o seu avô fazia. E serviu de mote para início de conversa."Para mim, o Brasil não é um país. São os cheiros, os sabores, os doces da minha avó e das minhas tias, a comida, uma maneira de viver e de falar e é sobretudo o meu avô, que está aqui presente em toda a parte. É a terra dele, é a terra da minha família. É a terra de onde vêm os meus nomes Lobo e Antunes", e por isso para o escritor é "muito comovente" estar de novo no Brasil, onde - apesar de ainda aqui ter família - já não vinha desde 1983."Os meus bisavós [que viviam em Belém do Pará] mandavam engomar a roupa à Europa e iam todos os anos a águas a Vichy. Viviam como nababos. E uma vez passaram em Lisboa e deixaram o meu avô no Colégio Militar." Era o seu avô António Lobo Antunes, que era oficial de cavalaria e depois entrou na revolução monárquica em 1918. Foi preso, desterrado para África e acabou depois por ficar em Portugal. Este avô de Lobo Antunes falava com sotaque de Belém do Pará.Os livros que havia em casa deste avô de António eram só livros brasileiros. Machado de Assis, José de Alencar, Azevedo, Monteiro Lobato, toda essa geração. Embora o avô de Lobo Antunes lê-se pouco. "Um dia, quando eu tinha doze anos, o meu avó mandou-me chamar ao escritório. Estava com um ar muito severo, muito zangado. Mandou-me sentar em frente dele e disse-me: 'Ouvi dizer que você escreve versos'. Fez-se um silêncio. 'Você é veado?'", conta Lobo Antunes enquanto a plateia se ri às gargalhadas. "Para o meu avô, oficial de cavalaria, quem escrevia versos tinha que ser veado [homossexual]. Eu não sabia o que era ser veado mas disse logo que não. 'Não, não, não'. Então fui tirar informação. E aquilo que me disseram ainda me tornou mais confuso."Sonetos a CristoAntónio Lobo Antunes começou a escrever versos "por necessidade material". O seu outro avô tinha morrido e a sua avó era uma mulher "muito piedosa, tinha um oratório em casa, estava sempre rezando". Então, António Lobo Antunes fazia "sonetos a Cristo" que depois vendia à sua avó. "Isso foi muito bom porque me salvou de andar a pedir esmolas nas esquinas. Entregava-lhe um soneto, fazia um ar triste, ela tinha um oratório muito grande - a minha avó portuguesa - e, à frente do oratório, não sei porquê, é uma relação curiosa, tinha o cofre do dinheiro, mesmo em frente dos santos. Santos, santos, santos e por baixo, o dinheiro. Eu entregava-lhe o soneto a Cristo, que ela punha no oratório, ficava a olhar para ela com olhos de cão batido, até que ela dizia: 'Quanto queres, filho?'." Risos por toda a plateia.O Prémio Camões 2007 tem seis irmãos, todos homens, e entre ele e o quarto irmão existem cinco anos de diferença. A avó do autor de Os Cus de Judas, a determinada altura, tinha uma cozinheira "muito bonita". Os rapazes iam à missa com a avó ao domingo. A seguir, corriam para casa antes que a avó chegasse para andarem à volta da cozinheira. E, contou António Lobo Antunes, a senhora resolveu "o problema" de uma maneira muito diplomática. "Disse-nos: 'A partir de agora, vocês têm conta aberta na pastelaria, podem comer todos os bolos que quiserem. E, como os bolos da pastelaria eram melhores que o 'bumbum' da criada, nós, em vez de irmos para casa, passámos a ir comer bolos para a pastelaria."Como eram muitos irmãos com a mesma idade, quando adoecia um, adoeciam todos. "O meu pai, que era médico, era muito severo. O meu pai não queria ter filhos, queria ter campeões de karaté. Tínhamos que ser bons em tudo." Mas foi graças ao pai que aprendeu a gostar de ler poesia, era o pai que lhes lia poesia (Manuel Bandeira, por exemplo, que está a ser homenageado nesta FLIP) quando estava doente. Ao longo de toda a conversa, António Lobo Antunes teve alguns problemas com o microfone e chegaram mesmo a enviar um bilhete aos oradores a pedir que ele aproximasse o micro da boca. Isso serviu para o escritor, durante a conferência, ir fazendo piadas sobre a sua "má relação com aqueles objectos". E dizer: "Se o meu avô estivesse aqui, perguntaria...", a propósito da conotação fálica do microfone. Por vezes, apesar do aparelho que tinha no ouvido, pedia a Humberto que repetisse a pergunta. Aconteceu quando o entrevistador lhe perguntou se era verdade que ele "era bom de briga"? António contou que, quando chegava a casa e estava a explicar ao pai que quem lhe tinha batido era maior do que ele, este aconselhava: "Mordias-lhes os ovos!".Humberto Werneck, na sua apresentação, lembrou que alguns críticos consideram que a Academia sueca "cometeu um erro grave de português", numa referência à atribuição do Prémio Nobel a José Saramago. A meio, disse que "o outro" vinha ao Brasil mais vezes. Lobo Antunes nunca se desmanchou, ficou impávido e sereno.Por fim, Humberto lembrou que, numa entrevista que os pais de Lobo Antunes deram à jornalista espanhola Maria Luísa Blanco, o pai do escritor disse que não lia os seus livros e a mãe disse que lia mas que ficava um pouco contrariada."Eu também pensava que ele não tinha lido. Mas depois da morte dele encontrei os meus livros todos anotados e uma carta que ele me deixou de 600 páginas. Deve ter levado uns dois anos a escrever aquela carta", revelou o escritor, emocionando a plateia, de onde se ouviu uma exclamação de surpresa. "A minha família era engraçada. Eu acho que nós nascemos todos por causa da Alemanha. O meu pai, para se especializar na sua área da Medicina, teve que ir para a Alemanha, onde havia a escola de Anatomia Patológica e então vinha uma vez por ano a Lisboa e ficava uma semana. Cada vez que ele vinha, e, depois, quando se ia embora, a barriga da minha mãe começava a crescer. E quando ele deixou de ir para a Alemanha a barriga da minha mãe deixou de crescer. Ainda hoje não sei o que há na Alemanha que faz crescer a barriga. Pelo menos a da minha mãe."Regresso à escrita?Lobo Antunes, que escreveu 21 romances em 30 anos, contou como os seus primeiros livros foram recusados por várias editoras e o que passou para chegar ao reconhecimento internacional que tem agora. O seu trabalho foi elogiado pelos académicos e críticos George Steiner e Harold Bloom. "Tive a infinita sorte de ter os elogios dos dois", disse. Lembrou a sua amizade por Jorge Amado e por João Ubaldo Ribeiro, de quem se tornou amigo quando o escritor brasileiro viveu em Lisboa. E quem chateava por não escrever, por considerar que era preguiçoso. "Íamos a casa de João às duas da manhã e lá estava ele fazendo feijoada de chinelo e calção. Ele vivia o Inverno de Lisboa, que é frio, como se estivesse no Verão da Baía. E às quatro da manhã se comia a feijoada. Depois, não escrevia. Então deu uma entrevista a um jornal, em que lhe perguntavam: 'João Ubaldo Ribeiro, você já não escreve?' E ele respondeu: 'Escrevo. Meu pseudónimo é António Lobo Antunes.'"E vendo toda a paixão de Lobo Antunes a falar sobre como escreve os seus romances, Humberto disse-lhe que não percebia como é que, com toda essa paixão de artista que transparecia na sua conversa, ele estava a anunciar que ia deixar de escrever. António Lobo Antunes respondeu: "É que, às vezes, eu tenho caprichos de cocotte. Você lembra daquela bailarina francesa cheia de plumas no 'bumbum', Zizi Jeanmaire?! Às vezes gosto de dar uma de Zizi a abanar as plumas do 'bumbum'. Há alturas em que se fica desesperado e se pensa que não se vai ser mais capaz. E se pensa: 'Para quê escrever? Vou deixar de escrever'. É a nossa alegria e o nosso tormento".No entanto, na Pousada da Marquesa onde está hospedado em Paraty, António Lobo Antunes tem escrito todos os dias.





















http://www.youtube.com/watch?v=iyLPdx1p338&feature=related

quarta-feira, 15 de julho de 2009

PARATY - CAPÍTULO IV

FLIP
Como afixionada pela internet, inscreví-me no blog da Flip.
As notícias chegam todos os dias e vibro com o que leio,
confessando que tenho muita inveja de Paraty.
Sonho vendo Salvador, "berço da cultura e da arte no Brasil",
sediando feira deste porte.
A preparação da Flip envolve uma mega equipe
e certamente já estão a pensar na Flip 2010.

"A 7a. edição do evento começou desde o momento em que a FLIP anterior teve fim.
Todo esse exercício de antecipação vai, na verdade, para dizer que a FLIP é um evento que conta com tempos múltiplos, que combina experiências diversas e termina por ser uma obra coletiva, em que escritores, leitores, críticos, artistas, jornalistas, viajantes e paratienses se encontram em momentos diferentes de suas experiências de vida.
O fato de esse encontro ocorrer mais uma vez a partir desta quarta-feira 1 de julho — e mais uma vez ser regado a literatura — é algo a ser celebrado. Para lembrar Manuel Bandeira, cuja poesia é homenageada na FLIP 2009, tomemos alegria". (Blog da FLIP)


Paraty viveu a Flip sem copos no chão, desavenças,
ou olhares atravessados por esbarrões.
O vinho, o chop, a cachaça parecem mais suaves,
o som menos estridente,
a música pede entrega e poesia
e o homem fica refém daquela atmosfera.
A Flip pede descoberta, reflexão, encanto,
desperta o interesse pela prosa, pela poesia,
e certamente abre horizontes.
Quem dera!










Porta da tenda,
onde ocorriam as mesas.
Bela homenagem a Bandeira.


















No painel foram usados cerca de 2 mil livros
compondo a imagem do rosto de Manuel Bandeira.












Tenda, perfeitamente incorporada a Paraty.












Tenda







A MANUEL BANDEIRA,



Desencanto
(Manuel Bandeira)
Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.
Meu verso é sangue.
Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias.
Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.
E nestes versos de angústia rouca,
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
- Eu faço versos como quem morre.
PARATY - CAPÍTULO III

Os amigos, A FLIP, os encontros, a pousada,
a música, a rua, a poesia, os bares, os cafés, a arte,
a boa comida, o luar, a vida!






carmen, tania e Milú















Olhando a programação!













um café, um papo amigo!













A boa cachaça de Parati, famosa!














A música, uma constante!










Deliciosa comida italiana!
"Punto Divino"

















"Pousada do Príncipe",
simplicidade e achonchego!

terça-feira, 14 de julho de 2009

FLIP - CAPÍTULO II - Ainda a "Cidade"


















































FLIP - Feira Literária Internacional de Paraty
1 a 5.07.2009

Capítulo I - A Cidade

Esta foi a 7a.edição da Flip, e a primeira que lá estive, infelizmente!
Ir a Flip, visitar Paraty, é uma experiência inesquecível.
Todas as experiências vivenciadas,
a atmosfera alegre, calorosa,
a beleza da cidade, a presença viva da música,
da poesia, do romance, do teatro,
fazem difícil explicar a Flip Paraty, melhor sentir.
Diz-se ser a caçula dos importantes festivais literários como Hay-on-Wye, Adelaide, Harbourfront de Toronto, Festival de Berlim, Edimburgo e Mântua,
mas apesar de não conhecer os outros eventos,
difícil superar o entusiasmo que assiti durante as mesas,
os concorridos autógrafos, a disputa pela compra de ingresssos
e de livros.

Impossível mesmo é não pensar em voltar em 2010.

Paraty é uma cidade litorânea contornada pelo mar azul-turquesa da baía da Ilha Grande e por grandes faixas intactas de mata atlântica.
Localizada a aproximadamente quatro horas de carro do Rio de Janeiro e de São Paulo, esse antigo porto, de onde se enviava a maior parte do ouro do Brasil ao Velho Mundo, é uma belíssima cidade histórica.
Paraty ou Parati é um município brasileiro no Sul do estado do Rio de Janeiro, microrregião da Baía da Ilha Grande. Muito antiga para os padrões brasileiros, a cidade foi povoada entre 1533 e 1560, em 1667 teve sua emancipação política decretada pelo rei de Portugal. A cidade já foi sede do mais importante porto exportador de ouro do Brsail, durante o período colonial.(wikipédia)
O nome vem do tupi Peixe Branco (referindo-se a uma espécie de peixe, o "Mugil curema"). Ao longo dos anos, a grafia foi alterada para pira'ty, paraty e finalmente para parati. Também pode designar um tipo de cachaça da região.







O mar













A baía e o porto










O Centro Histórico








As igrejas











Rio Perequetê














O Mar adentrando a cidade.













Os barcos, e finalmente, o Amor!

domingo, 12 de julho de 2009

PARATY - Amor a segunda vista!

Não conhecia "Parati",
conhecendo-a desde muito,
nos meus sonhos, meu desejo,
meu amor.
"Parati" vão saudades, partidas e chegadas,
sonhos de viagem, doces momentos,
"Parati" .......

Às vezes tudo se ilumina de uma intensa irrealidade
E é como se agora este pobre, este único,
este efêmero instante do mundo
Estivesse pintado numa tela,
Sempre...
(M.Quintana)












A chegada...........