sábado, 18 de julho de 2009

Que mitos, meu amor, entre os lençóis:
O que tu pensas gozo é tão finito
E o que pensas amor é muito mais.
Como cobrir-te de pássaros e plumas
E ao mesmo tempo te dizer adeus
Porque imperfeito és carne e perecível
E o que eu desejo é luz e imaterial.“(Hilda Hilst)

TODAS AS HISTÓRIAS SE PARECEM!

SOPHIE CALLE E GREGOIRE BOUILLIER
Outra mesa muito interessante na FLIP, digo mesmo inusitada,
foi a que trouxe os dois autores acima.
"Na primeira vez que os ex-namorados Sophie Calle e Grégoire Bouillier
se encontraram em público depois do fim do relacionamento,
a conversa entre os dois se concetrou na antiga relação
e na maneira como ambos reagiram ao rompimento.
Ambos responderam de maneira diferente à pergunta
sobre se a vida mudou depois que Sophie transformou a carta de separação em obra de arte. Grégoire disse “não”, Sophie, “sim”.
A separação resultou de um e-mail enviado por Grégoire.
Confusa com as palavras evasivas do namorado,
Calle decidiu mandar a carta para 107 mulheres interpretarem o que ele realmente quis dizer.
A artista escolheu mulheres de 107 profissões diferentes: revisora, cantora, atriz, bailarina, psicanalista, jornalista. “Não convidei nenhuma artista.
Nesse trabalho, a artista sou eu.” O resultado é o trabalho Prenez soin de vous (Cuide-se),
que recebeu como título as últimas palavras da carta.
Indagado pela plateia sobre por que tratou Sophie formalmente (por “vous” e não por “tu”), Grégoire disse que é assim que trata as mulheres que ama.
Sophie, por sua vez, disse que também trata assim os homens com quem se deita.
Os dois discordaram sobre a maneira que a relação terminou, mas concordaram sobre a qualidade das obras artísticas que falam do namoro: Prenez soin de vous,
e o livro O convidado surpresa, de Grégoire.
“Não concordo com o procedimento de Sophie, mas o resultado é incrível”, disse ele.
“O e-mail era de alguém que decide ir embora, mas não sabe como dizer isso”,
retrucou Sophie. “Mas não se tratava de vingança, mas um projeto artístico”.
Ao final, reconciliação pública pela arte e pela palavra". (Blog da FLIP)


Prenez soin de vous
(E-mail de Gregoire a Sophie)
Sophie,
Há algum tempo venho querendo lhe escrever e responder ao seu último e-mail.
Ao mesmo tempo, me pareceria melhor conversar com você
e dizer o que tenho a dizer de viva voz.
Mas pelo menos será por escrito.
Como você pôde ver, não tenho estado bem ultimamente.
É como se não me reconhecesse na minha própria existência.
Uma espécie de angústia terrível, contra a qual não posso fazer grande coisa,
senão seguir adiante para tentar superá-la, como sempre fiz.
Quando nos conhecemos, você impôs uma condição: não ser a “quarta”.
Eu mantive o meu compromisso: há meses deixei de ver as “outras”,
não achando obviamente um meio de vê-las, sem fazer de você uma delas.
Achei que isso bastasse; achei que amar você e o seu amor seriam suficientes para que a angústia que me faz sempre querer buscar outros horizontes e me impede de ser tranquilo e, sem dúvida, de ser simplesmente feliz e “generoso”,
se aquietasse com o seu contato e na certeza de que o amor que você tem por mim foi o mais benéfico para mim,
o mais benéfico que jamais tive, você sabe disso.
Achei que a escrita seria um remédio, que meu “desassossego” se dissolveria nela para encontrar você. Mas não. Estou pior ainda; não tenho condições sequer de lhe explicar o estado em que me encontro. Então, esta semana, comecei a procurar as “outras”.
E sei bem o que isso significa para mim e em que tipo de ciclo estou entrando.
Jamais menti para você e não é agora que vou começar.
Houve uma outra regra que você impôs no início de nossa história:
no dia em que deixássemos de ser amantes, seria inconcebível para você me ver novamente. Você sabe que essa imposição me parece desastrosa, injusta (já que você ainda vê B., R.,…) e compreensível (obviamente…); com isso, jamais poderia me tornar seu amigo.
Mas hoje, você pode avaliar a importância da minha decisão,
uma vez que estou disposto a me curvar diante da sua vontade,
pois deixar de ver você e de falar com você, de apreender o seu olhar sobre as coisas e os seres e a doçura com a qual você me trata são coisas das quais sentirei uma saudade infinita.
Aconteça o que acontecer, saiba que nunca deixarei de amar você da maneira que sempre amei desde que nos conhecemos, e esse amor se estenderá em mim e, tenho certeza, jamais morrerá. Mas hoje, seria a pior das farsas manter uma situação que você sabe tão bem quanto eu ter se tornado irremediável, mesmo com todo o amor que sentimos um pelo outro.
E é justamente esse amor que me obriga a ser honesto com você mais uma vez,
como última prova do que houve entre nós e que permanecerá único.
Gostaria que as coisas tivessem tomado um rumo diferente. Cuide de você.

Sucesso em Paris, Nova York e Veneza, o Ano da França no Brasil trouxe para São Paulo a exposição “Cuide de Você” (“Prenez soin de vous”) da artista conceitual, jornalista e fotógrafa francesa Sophie Calle, que transformou o fim de um romance em arte.
O mote da exposição foi o e-mail rompendo a relação.
Sophie Calle diz “É mais fácil realizar um projeto quando sofremos do que quando estamos felizes. Não sei o que prefiro: se é estar feliz com um homem ou fazer uma boa exposição”.
Em Salvador, a mostra será exposta no Museu de Arte Moderna da Bahia, de 22 de setembro a 22 de novembro

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