domingo, 28 de junho de 2009

PARATY,
ou PARATI,
PARANÓS.

Dia 30/06/2009, terça-feira, partimos.
Parati nos espera.
Até a volta e aguardem fotos e notícias.
















À EUGENIO DE ANDRADE, (poeta português), a quem aprendí a admirar !

O escritor e poeta Herberto Helder: quatro páginas manuscritas, enviou uma no final do ano 2000 um documento notável e revelador, mostrando a sua visão «pessoal» sobre a poesia portuguesa da segunda metade do século XX, na qual Eugénio é colocado no lugar cimeiro.
«Não há nenhum poeta português que possa ombrear consigo neste meio século», diz HH. «Talvez o Cesariny e a Sophia se aproximem de si, mas seria necessário, tanto a um como a outra, eliminar vários poemas maus. Quanto a si, não existe um só verso que deva ser eliminado.»

POEMAS DE EUGENIO ANDRADE


Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
E eu acreditava.
Acreditava,porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos.
Era no tempo em que o teu corpo era um aquário.
Era no tempo em que os meus olhos
eram os tais peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade:
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus
***
Que música escutas tão atentamente

Que música escutas tão atentamente
que não dás por mim?
Que bosque, ou rio, ou mar?
Ou é dentro de ti
que tudo canta ainda?
Queria falar contigo,

dizer-te apenas que estou aqui,
mas tenho medo,
medo que toda a música cesse
e tu não possas mais olhar as rosas.
Medo de quebrar o fio
com que teces os dias sem memória.
Com que palavras
ou beijos ou lágrimas
se acordam os mortos sem os ferir,
sem os trazer a esta espuma negra
onde corpos e corpos se repetem,
parcimoniosamente, no meio de sombras?
Deixa-te estar assim,
ó cheia de doçura,
sentada, olhando as rosas,
e tão alheia
que nem dás por mim.
***

Beira de Água
Estive sempre sentado nesta pedra
escutando, por assim dizer, o silêncio.
Ou no lago cair um fiozinho de água.
O lago é o tanque daquela idade
em que não tinha o coração magoado.
(Porque o amor, perdoa dizê-lo,
dói tanto! Todo o amor.
Até o nosso, tão feito de privação.)
Estou onde sempre estive:
à beira de ser água.
Envelhecendo no rumor da bica
por onde corre apenas o silêncio.

***

Foi para ti que criei as rosas.
Foi para ti que lhes dei perfume.
Para ti rasguei ribeiros
e dei ás romãs a cor do lume.

***
Devias estar aqui rente aos meus lábios
para dividir contigo esta amargura
dos meus dias partidos um a um
- Eu vi a terra limpa no teu rosto,
Só no teu rosto e nunca em mais nenhum

***

Passamos pelas coisas sem as ver,
gastos, como animais envelhecidos:
se alguém chama por nós não respondemos,
se alguém nos pede amor não estremecemos,
como frutos de sombra sem sabor,
vamos caindo ao chão, apodrecidos.








Salvador, cais do porto.