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sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Ninguém sabe, nem saberá..........

NÃO SE MATE

Carlos, sossegue, o amor é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe o que será.
Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se.
Não se mate,
oh não se mate,
reserve-se todo para as bodas que ninguém sabe quando virão,
se é que virão.
O amor, Carlos, você telúrico,
a noite passou em você, e os recalques se sublimando,
lá dentro um barulho inefável,
rezas, vitrolas,
santos que se persignam, anúncios do melhor sabão,
barulho que ninguém sabede quê, pra quê.
Entretanto você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam.
O amor no escuro, não, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos,
mas não diga nada a ninguém,
ninguém sabe nem saberá.

Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 13 de julho de 2010

O AMOR....SEMPRE!

O Amor
Gibran Kahlil Gibran


Então, Almitra disse:
“Fala-nos do amor.”
E ele ergueu a fronte e olhou para a multidão,
e um silêncio caiu sobre todos, e com uma voz forte, disse:


Quando o amor vos chamar, segui-o,
Embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados;
E quando ele vos envolver com suas asas, cedei-lhe,
Embora a espada oculta na sua plumagem possa ferir-vos;
E quando ele vos falar, acreditai nele,
Embora sua voz possa despedaçar vossos sonhos
Como o vento devasta o jardim.
Pois, da mesma forma que o amor vos coroa,
Assim ele vos crucifica.
E da mesma forma que contribui para vosso crescimento,
Trabalha para vossa queda.
E da mesma forma que alcança vossa altura
E acaricia vossos ramos mais tenros que se embalam ao sol,
Assim também desce até vossas raízes
E as sacode no seu apego à terra.
Como feixes de trigo, ele vos aperta junto ao seu coração.
Ele vos debulha para expor vossa nudez.
Ele vos peneira para libertar-vos das palhas.
Ele vos mói até a extrema brancura.
Ele vos amassa até que vos torneis maleáveis.
Então, ele vos leva ao fogo sagrado e vos transforma
No pão místico do banquete divino.
Todas essas coisas, o amor operará em vós
Para que conheçais os segredos de vossos corações
E, com esse conhecimento,
Vos convertais no pão místico do banquete divino.
Todavia, se no vosso temor,
Procurardes somente a paz do amor e o gozo do amor,
Então seria melhor para vós que cobrísseis vossa nudez
E abandonásseis a eira do amor,
Para entrar num mundo sem estações,
Onde rireis, mas não todos os vossos risos,
E chorareis, mas não todas as vossas lágrimas.
O amor nada dá senão de si próprio
E nada recebe senão de si próprio.
O amor não possui, nem se deixa possuir.
Porque o amor basta-se a si mesmo.
Quando um de vós ama, que não diga:
“Deus está no meu coração”,
Mas que diga antes:"Eu estou no coração de Deus”.
E não imagineis que possais dirigir o curso do amor,
Pois o amor, se vos achar dignos,
Determinará ele próprio o vosso curso.
O amor não tem outro desejo
Senão o de atingir a sua plenitude.
Se, contudo, amardes e precisardes ter desejos,
Sejam estes os vossos desejos:
De vos diluirdes no amor e serdes como um riacho
Que canta sua melodia para a noite;
De conhecerdes a dor de sentir ternura demasiada;
De ficardes feridos por vossa própria compreensão do amor
E de sangrardes de boa vontade e com alegria;
De acordardes na aurora com o coração alado
E agradecerdes por um novo dia de amor;
De descansardes ao meio-dia
E meditardes sobre o êxtase do amor;
De voltardes para casa à noite com gratidão;
E de adormecerdes com uma prece no coração para o bem-amado,
E nos lábios uma canção de bem-aventurança.
__________

sexta-feira, 25 de junho de 2010

A infinidade de amores na dor de existir

Nadiá Paulo Ferreira


O discurso psicanalítico, ao investigar os fundamentos do amor,
apresenta, de forma sistematizada, o que os poetas já sabiam:
o encontro da verdade com o saber não decifra toda a verdade.
O desejo de saber o que o amor é esbarra com algo indizível.

Assim, o que não pode ser dito e escrito converte o amor
em “um mal, que mata e não se vê”,
em “um não sei quê, que nasce não sei onde,
vem não sei como, e dói não sei por quê” (Camões).
Amar e saber o que é amar são coisas diferentes.
Amar é um acontecimento que nunca se esquece;
é inventar sentidos para a existência no mundo.
Saber o que é amar é impossível, porque “quem ama nunca sabe o que ama;
nem sabe por que ama, nem o que é amar” (Fernando Pessoa).
Diante da impossibilidade de saber toda a verdade, fala-se de amor.

Isso é o que vem sendo feito há séculos.
Platão, em O Banquete, retrata os lugares do discurso:
o do amante e o do amado.
Jacques Lacan (1901-1981) baseia-se no amor grego
para articular o par amante-amado com a estrutura do amor.
Aquele que experimenta a sensação de que alguma coisa lhe falta,
mesmo não sabendo o que é, ocupa o lugar de sujeito do desejo (amante);
aquele que sente que tem alguma coisa, mesmo não sabendo o que é,
ocupa o lugar de objeto (amado).
O paradoxo do amor reside justamente no fato de que o que falta ao amante
é precisamente o que o amado não tem.
Se Eros nasce de uma aspiração impossível, que é de dois fazer um,
o ser humano inventa o mito do amor, sustentado na promessa de felicidade.
E, enquanto isso não vem, o bem se transforma em mal,
inaugurando uma escola de amor infeliz.

Freud e a teoria da sexualidade humana

Em O Mal-estar na Civilização, Sigmund Freud (1856-1939)
adota a versão do amor que se encontra no poema “Sobre a Natureza”,
do filósofo grego Empédocles (490-430 a.C.):
Eros é uma força que tende para a unificação.
Em As Pulsões e Suas Vicissitudes (traduzido em português
por Os Instintos e Suas Vicissitudes),
Freud cria o conceito de pulsão para construir uma teoria da sexualidade humana:
as pulsões são os representantes psíquicos de estímulos internos,
situando-se no limite entre o psíquico e o somático,
e apresentam-se divididas em pulsões sexuais
e pulsões do eu (pulsões de autoconservação).
As pulsões sexuais (oral, anal e genital),

constituídas por quatro elementos (impulso, fonte, alvo e objeto),
passam por quatro processos de transformação:
reversão a seu oposto, retorno em direção ao próprio eu, recalque e sublimação.
A reversão a seu oposto caracteriza-se pela transformação do amor em ódio.
Essa metamorfose se refere a um tempo arcaico,
regido pelo autoerotismo (narcisismo primário), o qual é dividido em duas fases.
Na primeira fase, as pulsões do eu e as pulsões sexuais têm o mesmo alvo,
porque ainda não se separaram: é a satisfação autoerótica.
Sob o domínio do princípio de prazer,
constitui-se um eu primitivo, interessado pelo que lhe dá prazer
e desinteressado do que lhe dá desprazer.
Essa indiferença, nomeada de “repúdio primordial do eu narcísico”,
inaugura o ódio.
Na segunda fase, o eu da realidade, transformado em eu do prazer purificado,

realiza a distinção entre o fora e o dentro pela via da fantasia:
o que causava desprazer e era odiado é expulso do próprio corpo,
passando a constituir, então, o campo dos objetos;
o que causava prazer passa a ser amado e, como tal,
incorporado ao próprio corpo (eu do prazer).
É importante ressaltar que a precedência do ódio sobre o amor
está diretamente ligada às suas fontes:
o ódio nasce sob o domínio do princípio de prazer
e o amor inaugura-se no momento em que se constitui a pulsão.
Do acoplamento do amor ao ódio resulta a marca primordial do amor,
a ambivalência (amor/ódio).

Em Sobre o Narcisismo: uma Introdução,

Freud aborda o amor a partir da escolha de objeto.
Todo ser humano tem dois objetos sexuais:
ele mesmo e aqueles que desempenham
as funções de alimentação e de proteção.
Em função disso, temos duas escolhas: narcísica e anaclítica.
Na escolha narcísica, ama-se o que se é,
o que se foi ou o que se gostaria de ser.
Aqui, o objeto é amado com a mesma intensidade
que outrora o eu do prazer fora amado no autoerotismo.
Na escolha anaclítica, ama-se a parte do eu que foi renunciada
e transferida para o objeto, fazendo com que o objeto
seja revestido das funções materna e paterna:
a mulher que alimenta ou o homem que protege.

Freud retoma, em Psicologia de Grupo e Análise do Ego,

a escolha do objeto amado pelos mecanismos de idealização e de identificação.
A idealização caracteriza-se pelo engrandecimento do objeto
e a identificação pela forma mais arcaica de laços afetivos com o objeto.
Na idealização, o intenso investimento do eu
no objeto implica não só o empobrecimento desse eu,
mas também a sua ligação com o objeto,
mesmo depois da perda ou do abandono.
A separação é vivida como dilaceração,

fazendo com que o eu experimente a dolorosa sensação
de que uma parte de si mesmo foi arrancada para sempre.
Por sua vez, na identificação, a perda ou o abandono do objeto
conduz à incorporação de suas propriedades pelo eu.
Assim, na idealização, o objeto é colocado no lugar do ideal do eu, e,
na identificação, o objeto é colocado no lugar do eu.
Na idealização, ingressamos no reino da paixão,
onde o amante, encantado pelo objeto amado,
é levado à servidão sem limite.
Na cegueira da paixão, o enamorado pode inclusive
ser arrastado ao impulso do crime.
A perda do objeto da paixão converte o amor em ódio,
fazendo com que o desejo de posse se transforme em desejo de destruição.

Lacan e o amor como paixão e dom ativo

Lacan, em seu projeto de retorno à obra de Freud,
faz questão de enfatizar que é preciso distinguir
entre o amor como sentimento da paixão e o amor como dom ativo.
O amor como paixão inscreve-se no plano das relações imaginárias,
nível das relações especulares,
em que as imagens do eu e do outro se confundem.
O amor como dom ativo inscreve-se no plano das relações simbólicas,
dimensão da palavra, cujo registro é o da verdade,
da mentira, da equivocação e do erro.
A paixão visa ao outro como objeto
e o amor visa ao outro como sujeito.
Na paixão, exigem-se provas de amor.

Mesmo que as provas sejam dadas,
nunca o apaixonado se dá por satisfeito,
porque não se trata de ser amado, mas, sim,
de querer ser amado do modo pelo qual
se imagina que se deva ser amado.
Qualquer particularidade do outro amado
tem de ser apagada para que se mantenha a fantasia
de que de dois se faz um.
Lágrimas são derramadas pelo que deveria ter sido e não foi.
O fracasso de um sonho torna-se a causa do sofrimento de amor,
o qual se transforma em ódio de si mesmo e do outro.
Na paixão, amar é querer enviscar-se no objeto, capturando-o;
odiar é querer desvencilhar-se do objeto, aviltando-o.
Lacan afirma inclusive que “o ódio não se satisfaz
com o desaparecimento do adversário”.
Não basta o exílio, a prisão, o assassinato;

é preciso a injúria para denegrir o ser do outro odiado.
Se não se pode eliminar a existência do outro odiado na linguagem,
o caminho da difamação é a via pela qual se tenta associar
um nome à indignidade e à vilania.
Um terceiro elemento é acrescentado ao par amor-ódio: a ignorância.
O desejo de não querer saber está para a paixão
assim como o desejo de querer saber está para o amor.
O amor como dom ativo está para além da fascinação imaginária,
porque se dirige ao ser do outro em sua particularidade.
Trata-se de um amor que se inscreve no regime da diferença,
onde dois não fazem um, mas dois.

No Seminário 4: a Relação de Objeto,
Lacan aborda outra modalidade do amor,
aquele concebido como recusa do dom
e situado em torno do que o objeto amado não tem.
Três elementos entram em cena:
amante, objeto amado e para além do objeto.
O que se ama está para além do objeto.
E o que estaria nesse além senão a própria falta?
Justamente por isso, Lacan diz que o dom dado em troca não é nada:
“o nada por nada é o princípio da troca”.
Na dialética da recusa do dom,
o sujeito sacrifica-se para além daquilo que tem.
Então, amar é dar o que não se tem,
e o acento está no amor, não no objeto amado.
Esse acento comparece no amor cortês (o trovadorismo dos séculos 12 e 13),
na concepção barroca de amor, em Fernando Pessoa etc.
O que se ama é o próprio amor.

Lacan introduz, ainda, no Seminário 11,
o conceito de sujeito-suposto-saber (SsS)
no amor de transferência:
“Desde que haja em algum lugar o sujeito-suposto-saber, há transferência”.
A introdução de um sujeito-suposto-saber no amor de transferência
não modifica a sua estrutura, que é a mesma da paixão.
Por isso, ao amar alguém, suponho um saber;
ao odiar a alguém, suponho um não saber
(o saber que está em jogo é um saber sobre o desejo).
Há uma infinidade de amores.

Mesmo assim, o amor não é a panaceia para a dor de existir, inclusive porque, como nos ensina um poema do século 16 atribuído a Camões
(“Amor É Fogo que Arde sem Se Ver”),
como se pode esperar paz, harmonia e felicidade nos corações humanos,
“se tão contrário a si é o mesmo amor”?



quarta-feira, 12 de maio de 2010

Assim como homenageio a Vinicius, Mario, Adélia, Chico, Cora, e tantos outros,
gosto de escrever e falar do que aprecio,
da poesia simples e cristalina,
da palavras que tanto me emocionam.
Parabéns Maria!
www.ocheirodailha.blogspot.com

Os dias do verbo amar

Sei dos caminhos enviezados da vida
que lentamente se desfazem no mar
dos dias sim da alegria vivida
dos dias não que teimam em não cessar
Mas já não sei dos dias do verbo amar
Sei dos escolhos que a vida nos oferece
que lentamente se desfazem no mar
das ausências que a solidão tece
e das certezas que nos fazem sonhar
Mas já não sei dos dias do verbo amar
Sei das noites amargas sem o toque da pele
que lentamente se desfazem no mar
dos corpos cansados do amor e do mel
e das lágrimas que saltam do meu olhar
Porque já não sei dos dias do verbo amar.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

A ARTE DE CONVERSAR

Tênis e Frescobol - Rubem Alves

Depois de muito meditar sobre o assunto
concluí que os relacionamentos são de dois tipos:
há os do tipo 'tênis' e há os do tipo 'frescobol'.
Os relacionamentos do tipo tênis são uma fonte de raiva e ressentimentos
e terminam sempre mal.
Os do tipo frescobol são uma fonte de alegria
e têm a chance de ter vida longa.
Explico: para começar, uma afirmação de Nietzche,
com a qual concordo inteiramente.
Dizia ele: 'Ao pensar sobre a possibilidade do casamento
cada um deveria se fazer a seguinte pergunta:
'Você crê que seria capaz de conversar com prazer com esta pessoa
até sua velhice?Tudo o mais no casamento é transitório,
mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas
sobre a arte de conversar.'

Scherazade sabia disso.
Sabia que os relacionamentos baseados nos prazeres da cama
são sempre decapitados pela manhã, e terminam em separação,
pois os prazeres do sexo se esgotam rapidamente.
Há os carinhos que se fazem com o corpo
e há os carinhos que se fazem com as palavras.
E contrariamente ao que pensam os amantes inexperientes,
fazer carinho com as palavras não é ficar repetindo o tempo todo: 'Eu te amo...'.
Barthes advertia: 'Passada a primeira confissão,
'eu te amo' não quer dizer mais nada.
'É na conversa que o nosso verdadeiro corpo se mostra,
não em sua nudez anatômica, mas em sua nudez poética.
Recordo a sabedoria de Adélia Prado: 'Erótica é a alma'.
O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola.
Joga-se tênis para fazer o outro errar.
O bom jogador é aquele que tem a exata noção
do ponto fraco do seu adversário,
e é justamente para aí que ele vai dirigir sua cortada
- palavra muito sugestiva - que indica o seu objetivo sádico,
que é o de cortar, interromper, derrotar.
O prazer do tênis se encontra, portanto,
justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar
porque o adversário foi colocado fora de jogo.
Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro.
O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca.
Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito
e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa,
no lugar certo, para que o outro possa pegá-la.
Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado.
Aqui ou os dois ganham ou ninguém ganha.
E ninguém fica feliz quando o outro erra,
pois o que se deseja é que ninguém erre.
O erro de um, no frescobol, é um acidente lamentável
que não deveria ter acontecido,
pois o gostoso mesmo é jogar pra sempre...
E, o que errou pede desculpas, e o que provocou o erro se sente culpado.
Mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo
em que ninguém marca pontos...
A bola: são nossas fantasias, irrealidades,
sonhos sob a forma de palavras.
Conversar é ficar batendo sonho prá lá, sonho prá cá...
Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis.
Ficam à espera do momento certo para a cortada.
Tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo,
arrebentá-lo, como bolha de sabão...
O que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento.
Aqui, quem ganha sempre perde.
Já no frescobol é diferente: o sonho do outro é um brinquedo
que deve ser preservado, pois se sabe que, se é sonho,
é coisa delicada, do coração.
O bom ouvinte é aquele que, ao falar,
abre espaços para que as bolhas de sabão do outro voem livres.
Bola vai, bola vem-cresce o amor...
Ninguém ganha, para que os dois ganhem.
E se deseja então que o outro viva sempre,
eternamente, para que o jogo nunca tenha fim...

segunda-feira, 19 de abril de 2010

"AMAMOS, E CHEGAMOS ANTES DA HORA;
AMAMOS AINDA , E CHEGAMOS NO ÚLTIMO MINUTO;
JÁ NÃO AMAMOS E CHEGAMOS ATRAZADOS".
( Diane de Beausecq - França ( 1829 - 1899)

domingo, 18 de abril de 2010

A generosidade alimenta a vida,
Ilumina o dia, traz o sol, o amor, a alegria,

Faz o encontro acontecer!


A completude não existe

"Lacan ensinou que o amor é o desejo impossível de ser um quando há dois’.
Noutras palavras, é o desejo impossível da completude"

Vira e mexe ouço alguém dizer: "Fulano(a) não me completa".
Como se a completude existisse.
Trata-se de um mito originário da Grécia
que se perpetua no nosso imaginário.
Segundo o mito, nos primórdios, a forma humana era uma esfera
com quatro mãos, quatro pernas, duas cabeças e dois sexos.
Os seres humanos se deslocavam para a frente e para trás e,
ao correr, giravam sobre os oito membros.
Seu orgulho e sua força eram tamanhos que,
para enfraquecê-los, Zeus os cortou pela metade.
Para os gregos, o corte deu origem ao amor,
que junta as metades e de dois seres faz um.
Num dos seus seminários, Lacan retomou esse mito para ensinar que,
na verdade, o amor é "o desejo impossível de ser um quando há dois".
Noutras palavras, é o desejo impossível da completude,
já que o desejo de um sujeito nunca coincide inteiramente com o do outro.
A coincidência que o amante pode celebrar
é a da crença na liberdade do amado.
Uma crença que se expressa assim:
"Faça o que você deseja porque o seu desejo é o meu".
Com ela, a relação se renova continuamente e se perpetua, torna-se possível.
Isso significa que o egoísmo é incompatível com o amor
e este requer uma educação especial.
Que o próprio amor, aliás, oferece, porque ele torna os amantes inteligentes.
A paixão cega, mas o sentimento amoroso ilumina.
O amante não precisa perguntar ao amado o que este quer,
pois quem ama sabe a resposta.
A letra de uma das nossas canções populares diz que
não anda bem quem anda atrás de amor e paz.
Só é assim, no entanto, quando é da paixão que se trata
e a relação entre os amantes é de espelhamento;
quando um não autoriza o outro a ser ele mesmo, a diferir.
Fala-se muito na aceitação da diferença, porém ela é rara.
Implica uma generosidade que não é espontânea e precisa ser conquistada.
Para tanto, qualquer via é boa.
A da educação laica ou religiosa, de qualquer religião,
como bem disse o Dalai-Lama, numa das suas conferências em Paris,
insistindo na ideia de que para cada um
a melhor religião é aquela na qual foi formado.
Porque, em última instância, todas as religiões são contrárias ao egoísmo.
Betty Milan
A psicanalista e escritora Betty Milan assina a coluna
Consultório Sentimental em Veja.com.
Uma vez por mês, ela publica em VEJA
um artigo especialmente escrito para a revista impressa

segunda-feira, 5 de abril de 2010

A velhice, vista da limitada perspectiva da juventude

A velha senhora havia fechado as venezianas de seu quarto
- esperando, imaginei, evitar que o sol do meio-dia de Miami
invadisse sua tristeza.

Mesmo assim, o sol ainda atingia a janela com força total,
iluminando-a como uma lanterna chinesa.
Ela se sentava silenciosamente numa cadeira de rodas,
sua silhueta de 93 anos recurvada sob um banho de luz.
Eu entrei, segurei sua mão por um momento e me apresentei.
"Sente-se, doutor", disse ela educadamente.
Perguntei por que ela tinha vindo à casa de repouso,
e ela descreveu o recente falecimento de seu marido
após 73 anos de casamento.
Fiquei devastado pela ideia de sua perda
e quis oferecer algumas palavras de conforto.
Me inclinei para frente e comecei a falar.
"Eu sinto muitíssimo", disse a ela.
"Como tem sido para a senhora perder seu marido
depois de tantos anos de casamento?"
Ela fez uma pausa e então respondeu: "Tem sido o paraíso".
Vendo minha surpresa, ela sorriu e prosseguiu
para descrever como tinha suportado décadas de um casamento infeliz
com um homem grosseiro e que a ofendia verbalmente.
Conforme ela falava, percebi por que meus instintos
estavam tão completamente desligados.
Em minha empatia desencaminhada,
eu tinha cometido o que William James chamou de falácia do psicólogo
- deduzir incorretamente que alguém sabe o que outra pessoa está sentindo.
Com essa paciente recém-enviuvada,
imaginei que só lhe restava uma vida de tristeza e decrepitude,
e me senti mal por isso.
Mas eu estava errado.
Ela não tinha caído no abismo.
A senhora estava feliz por ter finalmente ganhado alguma liberdade,
e determinada a aproveitar ao máximo a situação.
No ano seguinte, na casa de repouso,
ela se lançou em novas atividades e relacionamentos
de uma forma bastante inesperada.
De tempos em tempos, todos nós caímos nessas impressões errôneas
sobre a idade avançada.
Elas derivam, em parte, de uma perspectiva centrada na idade,
na qual nós enxergamos nossa própria idade
como a época mais normal de todas,
a forma como toda a vida deveria ser.
Aos 18 anos, os cinquentões podem parecer idosos,
mas aos cinquenta nós podemos dizer o mesmo a respeito das pessoas com 80.
"Então, como é realmente ser velho?",
pergunto frequentemente aos meus pacientes,
que estão principalmente entre seus 80 e 90 anos
- e as respostas são bastante inesperadas.
"Me esqueci de que era tão velha",
me confidenciou recentemente uma paciente de 100 anos,
e então pediu licença para chegar a tempo na partida de bingo.
Esse foco na idade é particularmente difundido na postura das pessoas
em relação a casas de repouso.
Com frequência exagerada,
imaginamos que a vida parece terminar na porta do asilo
- que o ambiente é desprovido de amor, solitário,
com a morte pairando bem perto.
Nós cometemos esse engano
quando nos recusamos a enxergar as necessidades de intimidade
até mesmo dos idosos mais debilitados.
Nossa cultura, centrada na juventude, equaciona amor com sexo;
em contraste, tenho visto com meus pacientes mais velhos
que o amor pode ser uma flor desabrochando ao infinito,
sentido e expresso de centenas de maneiras.
A mãe de um amigo que sofre de Alzheimer
se apaixonou por outro residente de seu andar;
eles caminham por ali de mãos dadas,
abraçando-se numa inocência redescoberta
que talvez apenas sua perda de memória tenha restaurado.
Nós também projetamos nosso horror à morte sobre os idosos,
deduzindo que o medo e a depressão devem acompanhar os anos finais da vida.
Mesmo assim, em meus 15 anos de trabalho em casas de repouso,
nunca ouvi um paciente dizer que tinha medo de morrer.
Algumas vezes, há aceitação, em outras, expectativa,
mas geralmente essa não é uma grande preocupação.
A vida prossegue em suas sombras.
No fim, existe um custo para nossa visão míope do envelhecimento.
Nós imaginamos as dores e os problemas da idade avançada,
mas nos esquecemos das alegrias e novas buscas;
nós recuamos frente às perdas e à solidão,
e não abraçamos a sabedoria e o significado que somente a idade pode trazer.
Henry Wadsworth Longfellow captou muito bem esse sentimento:

Pois a idade é oportunidade, não menos
Que a própria juventude, mesmo que em outros trajes
E à medida que o crepúsculo da noite se esvai
O céu se enche de estrelas, invisíveis durante o dia.


Dr.Marc E.Agronin é psiquiatra geriátrico do Miami Jewish Health Systems.
© 2010 New York Times News Service

sábado, 3 de abril de 2010

Ainda Drumomd, O POETA

Quando releio Drumond,
Releio a vida, a poesia, o amor!















TRECHOS DA ÚLTIMA ENTREVISTA

O suplemento Idéias, do Jornal do Brasil, de 22 de agosto de 1987
(cinco dias após a morte de Drummond), apresentou em suas páginas centrais
trechos da última e exclusiva entrevista do poeta mineiro
ao jornalista Geneton Moares Neto.

Dezessete dias antes de dar adeus ao mundo,
Carlos Drummond de Andrade confessava que tinha um único e prosaico medo:
o de escorregar, levar uma queda boba e quebrar o fêmur.
A confissão é exemplar do temperamento do maior poeta brasileiro.
Quem batesse à porta do apartamento 701 do prédio de número 60
da Rua Conselheiro Lafayette, em Copacabana,
à procura de declarações grandiloqüentes sobre a vida,
a arte e a eternidade iria se deparar
com um homem teimosamente prosaico,
despido de todo e qualquer traço de vaidade e orgulho
diante de uma obra que começou a brotar em Itabira
para o mundo em 1918, ano da publicação de um poema chamado Prosa,
num jornalzinho que só saiu uma vez.


O Drummond que se revela de corpo inteiro na longa entrevista
que nos concedeu em duas sessões - nos dias 20 e 30 de julho -
é um homem desiludido com o mundo. Agnóstico.
Confessadamente solitário. Cético diante da posteridade.
Injustamente rigoroso no julgamento da obra que produziu.
Tinha uma íntima esperança: queria ver a filha única,
a escritora Maria Julieta, recuperada da doença.
Tanto é que tentou adiar a entrevista para ‘quando as coisas melhorassem’.
Não melhoraram. Os azares de agosto desabaram
sobre os ombros frágeis do poeta.
O câncer ósseo levou Maria Julieta.
E tirou do poeta a vontade de viver.
A imagem do Drummond cambaleante
nas alamedas do cemitério no enterro da filha única
era um mau presságio.

Menos de uma semana antes da morte da filha, Drummond,
enfim, cedera à nossa insistência em obter um longo depoimento
- não sem, antes, brindar-nos com o dúbio qualitativo de ‘implacável’.
A entrevista fazia parte do projeto de publicação
de um livro de depoimentos sobre os 60 anos
do célebre poema No meio do caminho, no próximo ano.
Drummond, naturalmente, não concordava nem de longe
com a idéia de homenagear a data.
‘Não vale a pena; a data não merece consideração alguma’.
Mas, provocado, falou como em poucas vezes:
o depoimento, transcrito, rendeu cerca de mil linhas datilografadas.
Um trecho - que antecipava a decisão do poeta de deixar de escrever
- foi publicado no Idéias há duas semanas.
Depois da morte da filha,
Drummond tentou sustar a publicação da entrevista
porque a considerava ‘muito festiva’.
Acabou permitindo, sob a condição de que o editor avisasse
que ela tinha sido concedida antes da morte de Maria Julieta.
Em poucos dias, a entrevista transformou-se
na cerimônia de adeus do maior poeta brasileiro.
Mais do que nunca, neste depoimento,
Drummond insiste que será esquecido em pouco tempo.
Não será. E não terá sido por acaso que o clima no seu enterro
não era propriamente de comoção.
Porque todo mundo ali sabia que, nos versos, Drummond vive.
E, na morte, encontrou o que tanto queria: a paz.

No dia 5 de agosto morre a mulher que mais amou,
sua amiga, confidente e filha Maria Julieta.
Desolado, Drummond pede a sua cardiologista
que lhe receite um “infarto fulminante”.
Apenas doze dias depois, em 17 de agosto de 1987,
Drummond morre numa clínica em Botafogo, no Rio de Janeiro,
de mãos dadas com Lygia Fernandes,
sua namorada com quem manteve um romance paralelo ao casamento
e que durou 35 anos (Drummond era 25 anos mais velho
e a conheceu quando ele tinha 49 anos).
Era uma amor secreto, mas nem tanto.
Lygia contaria ao jornalista Geneton Moares Neto
(a quem Drummond concedeu sua última entrevista)
que “a paixão foi fulminante”.


O MEDO
“A maior chateação da velhice é você ficar privado

do uso completo de suas faculdades.
A pessoa velha tem de moderar o ritmo do andar,
porque, do contrário, o coração começa a pular.
Não pode fazer grandes excessos.
Não tomar um pileque de vez em quando
porque isso provocará consequências maléficas.
Ela tem de ser moderada até nos amores.
“O medo que tenho é levar uma queda, me machucar,
quebrar a cabeça, coisas assim, porque, na idade em que estou,
a primeira coisa que acontece numa queda é a fratura do fêmur.
Isso eu receio”.
“...Cantaremos o medo da morte/ depois morreremos de medo/ e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas”

(Congresso Internacional do Medo - trecho)

O PAÍS
“Eu lamento que haja pouco consumo de livro no Brasil.

Mas aí é um problema muito mais grave.
É o problema da deseducação, o problema da pobreza
- e, portanto, o da falta de nutrição e da falta de saúde.
Antes de um escritor se lamentar porque não é lido
como são lidos os escritores americanos ou europeus,
ele deve se lamentar de pertencer a um país
em que há tanta miséria e tanta injustiça social”.
“Precisamos descobrir o Brasil/ Escondido atrás das florestas/

com a água dos rios no meio/ o Brasil está dormindo, coitado”
(Hino Nacional - trecho)


A SOLIDÃO
“Se eu me sinto solitário?

Em parte, sim, porque perdi meus pais e meus irmãos todos.
Nós éramos seis irmãos.
E, em parte, porque perdi também amigos da minha mocidade,
como Pedro Nava, Mílton Campos, Emílio Moura,
Rodrigo Melo Franco de Andrade, Gustavo Capanema
e outros que faziam parte da minha vida anterior, a mais profunda.
Isso me dá um sentimento de solidão.
Por outro lado, a solidão em si é muito relativa.
Uma pessoa que tem hábitos intelectuais ou artísticos,
uma pessoa que gosta de música, uma pessoa que gosta de ler
nunca está sozinha. Ela terá sempre uma companhia:
a companhia imensa de todos os artistas,
todos os escritores que ela ama, ao longo dos séculos”.
“Precisava de um amigo/ desses calados, distantes,

/ que lêem verso de Horácio/ mas secretamente influem
/ na vida, no amor, na carne/ Estou só, não tenho amigo
/ E a essa hora tardia/ como procurar um amigo?”
(A bruxa - trecho)

Postado in MEMÓRIA VIVA


AMOR E AMIZADE

"Aquilo que provamos quando estamos apaixonados talvez seja o nosso estado normal.
O amor mostra ao homem
como é que ele deveria ser sempre".
Anton Tchekhov



As nossas palavras "ditas" e "bemditas" sobre o amor.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

AMOR

Não há vida sem amor

"O amor e as suas variantes, o sucesso e o insucesso no amor,
a fidelidade e a infidelidade, são temas eternos.
O que muda é a forma de lidar com o sentimento amoroso"

O amor foi um dos grandes temas do filósofo grego Platão.
Ele distinguia o amor físico, "superficial",
aquele em que o parceiro pouco importa, pois só a aventura interessa,
do amor celeste, em que o amante ama o amado pela sua alma
e o sexo entre eles é um elo forte.
Esse amor celeste implica regras de conduta
para evitar o comportamento intempestivo
dos que se entregam ao amor superficial, também dito vulgar.
Platão diz que o amante e o amado devem se cuidar
para se tornar bons e sábios – virtuosos, enfim.
Na Idade Média, com o surgimento dos trovadores (os poetas líricos),
o amor se tornou um tema privilegiado
nas conversas das cortes da Europa.
Os nobres se perguntavam, por exemplo,
se é mais infeliz a dama que perde o seu amante
porque ele morreu ou aquela que perde porque ele a traiu;
se uma dama traída pelo amante age ou não de forma desleal
ao entregar-se a um segundo mais fiel;
se um cavaleiro que perde toda a esperança de ver a sua dama,
controlada por um marido ciumento, pode ou não se voltar para outra.
O amor e as suas variantes, o sucesso e o insucesso no amor,
a fidelidade e a infidelidade, são temas eternos.
O que muda é a forma de lidar com o sentimento amoroso.
Nós, hoje, não nos orientamos por regras prefixadas
e também não inventariamos os casos possíveis – acreditamos,
pelo contrário, que cada caso é único,
por mais que guarde semelhanças com outros.
Com a descoberta do inconsciente,
a ideia da particularidade de cada indivíduo se impôs.
Sabemos que ninguém vive o amor da mesma maneira.
Também sabemos que o amor se apresenta como um enigma
e nunca se deixa decifrar inteiramente – ele é indissociável do não saber.
Assim, no começo dos anos 80,
quando um editor me pediu que escrevesse um livro sobre o tema,
eu aceitei a proposta – escrevi, porém,
que não há como definir o sentimento amoroso.
Usei, como epígrafe do livro,
uma frase do poeta português Fernando Pessoa:
"Anjo... de que matéria é feita a tua matéria alada?".
O caráter enigmático do amor é uma das razões pelas quais
nós o amamos e não estranhamos a frase
"Se você já não me ama, prefiro morrer".
O amor nos faz ver o mundo com olhos de criança,
ao oferecer surpresas e nos transportar.
Amar é surpreender-se e surpreender-se é viver.
Quem se dá conta disso acaba por entender a frase
"Navegar é preciso, viver não", que Fernando Pessoa usou
como epígrafe da sua obra poética.
Ele se apropriou desse lema da Liga Hanseática –
que, na Idade Média, reunia militar e comercialmente
150 cidades europeias – para falar de um assunto
que hoje diz respeito aos nórdicos, aos portugueses, a todos.

Betty Milan - Psicanalista

Acompanhe a coluna de Betty Milan em
www.veja.com/bettymilan


segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Vinícius de Moraes
Marcus Vinicius da Cruz de Mello Moraes,
ou Vinicius de Moraes, (1913 - 1980) foi um diplomata,
jornalista, poeta e compositor brasileiro.

"A gente não faz amigos, reconhece-os".

"Amar, porque nada melhor para a saúde que um amor correspondido".

"Com as lágrimas do tempo e a cal do meu dia eu fiz o cimento da minha poesia".

"A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida".

"Se o amor é fantasia, eu me encontro ultimamente em pleno carnaval".

"Quem de dentro de si não sai, vai morrer sem amar ninguém..."

"Por mais longa que seja a caminhada o mais importante é dar o primeiro passo".

Ai de quem ama

Quanta tristeza
Há nesta vida
Só incerteza
Só despedida
Amar é triste
O que é que existe?
O amor
Ama, canta
Sofre tanta
Tanta saudade
Do seu carinho
Quanta saudade
Amar sozinho
Ai de quem ama
Vive dizendo
Adeus, adeus

Ausência

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.

E finalmente ..........................
Quem nunca viveu um grande amor.................

PARA VIVER UM GRANDE AMOR

Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso,
muita seriedade e pouco riso — para viver um grande amor.
Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher;
pois ser de muitas, poxa! é de colher...
— não tem nenhum valor.
Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro
e ser de sua dama por inteiro — seja lá como for.
Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada
e postar-se de fora com uma espada — para viver um grande amor.
Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o "velho amigo",
que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor.
É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado,
pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor.
Para viver um amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade
de que não existe amor sem fidelidade — para viver um grande amor.
Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade,
dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.
Para viver um grande amor, il faut além de fiel,
ser bem conhecedor de arte culinária e de judô — para viver um grande amor.
Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito;
é preciso também ter muito peito — peito de remador.
É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada
e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor.
É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista
— muito mais, muito mais que na modista! — para aprazer ao grande amor.
Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo;
depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor...
Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos,
strogonoffs — comidinhas para depois do amor.
E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha
com uma rica e gostosa farofinha, para o seu grande amor?
Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser,
se possível, um só defunto — pra não morrer de dor.
É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente,
pois qualquer "baixo" seu, a amada sente — e esfria um pouco o amor.
Há que ser bem cortês sem cortesia;
doce e conciliador sem covardia;
saber ganhar dinheiro com poesia — para viver um grande amor.
É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!)
e ser impermeável ao diz-que-diz-que — que não quer nada com o amor.
Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva oscura e desvairada
não se souber achar a bem-amada — para viver um grande amor










Salvador- Bahia
(Ondina)

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

PARTIDA...........

Vais,
Partes,
Deixa-me.
Vão rapidos os dias,
Como eu, voam, volta
Afastam-se do mar, das dores, das saudades.
Reconheço ausências,
Faltas, momentos gastos,
Perdidos.
Nada era meu,
Nem meu eras, quando eu mais pensava,
Eras teu, apenas.
Amor, ternura, engano e solidão,
Fugas diárias e mêdo,
Voo errante na imensidão,
Mergulho no oceano, escuridão.








Em Parati,
descobri perdido meio ao mar,
lembrei do que não foi..........
Mas invadiu-me a poesia,
Inevitável pensar!



"E me beija com calma e fundo
Até minh'alma se sentir beijada......." (Chico Buarque)

terça-feira, 25 de agosto de 2009

NOTÍCIAS DIRETAS DE PORTUGAL

E VIVA AO AMOR..SEMPRE!
De Manuel Alegre ao Barão Vermelho, mas sempre amor!
Coisa Amar
Contar-te longamente as perigosas
coisas do mar. Contar-te o amor ardente
e as ilhas que só há no verbo amar.
Contar-te longamente longamente.
Amor ardente. Amor ardente. E mar.
Contar-te longamente as misteriosas
maravilhas do verbo navegar.
E mar. Amar: as coisas perigosas.
Contar-te longamente que já foi
num tempo doce coisa amar. E mar.
Contar-te longamente como doi
desembarcar nas ilhas misteriosas.
Contar-te o mar ardente e o verbo amar.
E longamente as coisas perigosas.

Por Você (Barão vermelho)

Por você eu dançaria tango no teto
Eu limparia os trilhos do metrô
Eu iria a pé do Rio a Salvador
Eu aceitaria a vida como ela é
Viajaria à prazo pro inferno
Eu tomaria banho gelado no inverno
Por você eu deixaria de beber
Por você eu ficaria rico num mês
Eu dormiria de meia pra virar burguês
Eu mudaria até o meu nome
Eu viveria em greve de fome
Desejaria todo o dia a mesma mulher
Por você, por vocêPor você, por você
Por você eu conseguiria até ficar alegre
Eu pintaria todo o céu de vermelho
Eu teria mais herdeiros que um coelho
Eu aceitaria a vida como ela é
Viajaria à prazo pro inferno
Eu tomaria banho gelado no inverno
Por você eu deixaria de beber
Por você eu ficaria rico num mês
Eu dormiria de meia pra virar burguês
Eu mudaria até o meu nome
Eu viveria em greve de fome
Desejaria todo o dia a mesma mulher
Por você, por vocêPor você, por vocêPor você, por vocêPor você, por você

E veja o que começou em PARATI (julho 2009)
e que fomos, eu, Tania e Milú,
"testemunhas oculares"....rsrsrsrsrsrs



















terça-feira, 4 de agosto de 2009

Ao nosso comum que é tão raro!

Monte Castelo
Renato Russo (recortes do Apóstolo Paulo e de Camões).


Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos
Sem amor, eu nada seria...
É só o amor, é só o amor

Que conhece o que é verdade
O amor é bom, não quer o mal
Não sente inveja
Ou se envaidece...
O amor é o fogo

Que arde sem se ver
É ferida que dói
E não se sente
É um contentamento
Descontente
É dor que desatina sem doer...
Ainda que eu falasse

A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos
Sem amor, eu nada seria...
É um não querer

Mais que bem querer
É solitário andar
Por entre a gente
É um não contentar-se
De contente
É cuidar que se ganha
Em se perder...
É um estar-se preso

Por vontade
É servir a quem vence
O vencedor
É um ter com quem nos mata
A lealdade
Tão contrário a si
É o mesmo amor...
Estou acordado


E todos dormem, todos dormem
Todos dormem
Agora vejo em parte
Mas então veremos face a face
É só o amor, é só o amor
Que conhece o que é verdade...
Ainda que eu falasse

A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos
Sem amor, eu nada seria...









SINTRA, PT


terça-feira, 28 de julho de 2009

















Morte


Os olhos de ontem não existem,
furados estão, derramam sangue e dores,
jamais enxergarão como antes.

As mãos de ontem quebraram,
perderam o dom de acariciar,
e doem incessantemente, como se estivessem cansadas,
ou desencantadas, quem sabe?

O corpo de ontem está morto,
pálido, frio, como naquele dia de partida,
O corpo da falta, dor e despedida,
corpo sem expressão,
sem ti ensanguentado está.

Ah! mãos, olhos, corpo e saudades,
Ah! dores, desencantos e ausência,
vida que já não tens e força que já não sinto,
Tempo que já passou,
Amor que já perdi,
Ao longe.
22:48 Carmen Bastos

domingo, 28 de junho de 2009

À EUGENIO DE ANDRADE, (poeta português), a quem aprendí a admirar !

O escritor e poeta Herberto Helder: quatro páginas manuscritas, enviou uma no final do ano 2000 um documento notável e revelador, mostrando a sua visão «pessoal» sobre a poesia portuguesa da segunda metade do século XX, na qual Eugénio é colocado no lugar cimeiro.
«Não há nenhum poeta português que possa ombrear consigo neste meio século», diz HH. «Talvez o Cesariny e a Sophia se aproximem de si, mas seria necessário, tanto a um como a outra, eliminar vários poemas maus. Quanto a si, não existe um só verso que deva ser eliminado.»

POEMAS DE EUGENIO ANDRADE


Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
E eu acreditava.
Acreditava,porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos.
Era no tempo em que o teu corpo era um aquário.
Era no tempo em que os meus olhos
eram os tais peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade:
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus
***
Que música escutas tão atentamente

Que música escutas tão atentamente
que não dás por mim?
Que bosque, ou rio, ou mar?
Ou é dentro de ti
que tudo canta ainda?
Queria falar contigo,

dizer-te apenas que estou aqui,
mas tenho medo,
medo que toda a música cesse
e tu não possas mais olhar as rosas.
Medo de quebrar o fio
com que teces os dias sem memória.
Com que palavras
ou beijos ou lágrimas
se acordam os mortos sem os ferir,
sem os trazer a esta espuma negra
onde corpos e corpos se repetem,
parcimoniosamente, no meio de sombras?
Deixa-te estar assim,
ó cheia de doçura,
sentada, olhando as rosas,
e tão alheia
que nem dás por mim.
***

Beira de Água
Estive sempre sentado nesta pedra
escutando, por assim dizer, o silêncio.
Ou no lago cair um fiozinho de água.
O lago é o tanque daquela idade
em que não tinha o coração magoado.
(Porque o amor, perdoa dizê-lo,
dói tanto! Todo o amor.
Até o nosso, tão feito de privação.)
Estou onde sempre estive:
à beira de ser água.
Envelhecendo no rumor da bica
por onde corre apenas o silêncio.

***

Foi para ti que criei as rosas.
Foi para ti que lhes dei perfume.
Para ti rasguei ribeiros
e dei ás romãs a cor do lume.

***
Devias estar aqui rente aos meus lábios
para dividir contigo esta amargura
dos meus dias partidos um a um
- Eu vi a terra limpa no teu rosto,
Só no teu rosto e nunca em mais nenhum

***

Passamos pelas coisas sem as ver,
gastos, como animais envelhecidos:
se alguém chama por nós não respondemos,
se alguém nos pede amor não estremecemos,
como frutos de sombra sem sabor,
vamos caindo ao chão, apodrecidos.








Salvador, cais do porto.