terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

AMOR

Não há vida sem amor

"O amor e as suas variantes, o sucesso e o insucesso no amor,
a fidelidade e a infidelidade, são temas eternos.
O que muda é a forma de lidar com o sentimento amoroso"

O amor foi um dos grandes temas do filósofo grego Platão.
Ele distinguia o amor físico, "superficial",
aquele em que o parceiro pouco importa, pois só a aventura interessa,
do amor celeste, em que o amante ama o amado pela sua alma
e o sexo entre eles é um elo forte.
Esse amor celeste implica regras de conduta
para evitar o comportamento intempestivo
dos que se entregam ao amor superficial, também dito vulgar.
Platão diz que o amante e o amado devem se cuidar
para se tornar bons e sábios – virtuosos, enfim.
Na Idade Média, com o surgimento dos trovadores (os poetas líricos),
o amor se tornou um tema privilegiado
nas conversas das cortes da Europa.
Os nobres se perguntavam, por exemplo,
se é mais infeliz a dama que perde o seu amante
porque ele morreu ou aquela que perde porque ele a traiu;
se uma dama traída pelo amante age ou não de forma desleal
ao entregar-se a um segundo mais fiel;
se um cavaleiro que perde toda a esperança de ver a sua dama,
controlada por um marido ciumento, pode ou não se voltar para outra.
O amor e as suas variantes, o sucesso e o insucesso no amor,
a fidelidade e a infidelidade, são temas eternos.
O que muda é a forma de lidar com o sentimento amoroso.
Nós, hoje, não nos orientamos por regras prefixadas
e também não inventariamos os casos possíveis – acreditamos,
pelo contrário, que cada caso é único,
por mais que guarde semelhanças com outros.
Com a descoberta do inconsciente,
a ideia da particularidade de cada indivíduo se impôs.
Sabemos que ninguém vive o amor da mesma maneira.
Também sabemos que o amor se apresenta como um enigma
e nunca se deixa decifrar inteiramente – ele é indissociável do não saber.
Assim, no começo dos anos 80,
quando um editor me pediu que escrevesse um livro sobre o tema,
eu aceitei a proposta – escrevi, porém,
que não há como definir o sentimento amoroso.
Usei, como epígrafe do livro,
uma frase do poeta português Fernando Pessoa:
"Anjo... de que matéria é feita a tua matéria alada?".
O caráter enigmático do amor é uma das razões pelas quais
nós o amamos e não estranhamos a frase
"Se você já não me ama, prefiro morrer".
O amor nos faz ver o mundo com olhos de criança,
ao oferecer surpresas e nos transportar.
Amar é surpreender-se e surpreender-se é viver.
Quem se dá conta disso acaba por entender a frase
"Navegar é preciso, viver não", que Fernando Pessoa usou
como epígrafe da sua obra poética.
Ele se apropriou desse lema da Liga Hanseática –
que, na Idade Média, reunia militar e comercialmente
150 cidades europeias – para falar de um assunto
que hoje diz respeito aos nórdicos, aos portugueses, a todos.

Betty Milan - Psicanalista

Acompanhe a coluna de Betty Milan em
www.veja.com/bettymilan


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