domingo, 18 de abril de 2010

A generosidade alimenta a vida,
Ilumina o dia, traz o sol, o amor, a alegria,

Faz o encontro acontecer!


A completude não existe

"Lacan ensinou que o amor é o desejo impossível de ser um quando há dois’.
Noutras palavras, é o desejo impossível da completude"

Vira e mexe ouço alguém dizer: "Fulano(a) não me completa".
Como se a completude existisse.
Trata-se de um mito originário da Grécia
que se perpetua no nosso imaginário.
Segundo o mito, nos primórdios, a forma humana era uma esfera
com quatro mãos, quatro pernas, duas cabeças e dois sexos.
Os seres humanos se deslocavam para a frente e para trás e,
ao correr, giravam sobre os oito membros.
Seu orgulho e sua força eram tamanhos que,
para enfraquecê-los, Zeus os cortou pela metade.
Para os gregos, o corte deu origem ao amor,
que junta as metades e de dois seres faz um.
Num dos seus seminários, Lacan retomou esse mito para ensinar que,
na verdade, o amor é "o desejo impossível de ser um quando há dois".
Noutras palavras, é o desejo impossível da completude,
já que o desejo de um sujeito nunca coincide inteiramente com o do outro.
A coincidência que o amante pode celebrar
é a da crença na liberdade do amado.
Uma crença que se expressa assim:
"Faça o que você deseja porque o seu desejo é o meu".
Com ela, a relação se renova continuamente e se perpetua, torna-se possível.
Isso significa que o egoísmo é incompatível com o amor
e este requer uma educação especial.
Que o próprio amor, aliás, oferece, porque ele torna os amantes inteligentes.
A paixão cega, mas o sentimento amoroso ilumina.
O amante não precisa perguntar ao amado o que este quer,
pois quem ama sabe a resposta.
A letra de uma das nossas canções populares diz que
não anda bem quem anda atrás de amor e paz.
Só é assim, no entanto, quando é da paixão que se trata
e a relação entre os amantes é de espelhamento;
quando um não autoriza o outro a ser ele mesmo, a diferir.
Fala-se muito na aceitação da diferença, porém ela é rara.
Implica uma generosidade que não é espontânea e precisa ser conquistada.
Para tanto, qualquer via é boa.
A da educação laica ou religiosa, de qualquer religião,
como bem disse o Dalai-Lama, numa das suas conferências em Paris,
insistindo na ideia de que para cada um
a melhor religião é aquela na qual foi formado.
Porque, em última instância, todas as religiões são contrárias ao egoísmo.
Betty Milan
A psicanalista e escritora Betty Milan assina a coluna
Consultório Sentimental em Veja.com.
Uma vez por mês, ela publica em VEJA
um artigo especialmente escrito para a revista impressa

Um comentário:

  1. Amar, apaixonar-se. Amar é sublime no entanto é a paixão que impulsiona para nossas realizações. Para viver é necessário apaixonar-se sempre por muitas coisa, muitas pessoas.
    Boa semana pra vc.

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