segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Ao meu pai, sempre presente em minha vida.




Ausência


Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada,
aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
Carlos Drummond de Andrade, in 'O Corpo'

Meu Pai era alegre e sorridente, cheio de vida, sempre.
Quase nunca, a meus olhos, o vi titubear diante das dificuldades.
Otimista, cheio de projetos ainda na velhice,
Mas pouco sorria nas fotografias, dizia sempre.
Nesta foto, tirada por meu irmão em 2000,
ele aparece tão risonho...
Ao ver supreendeu-se, e perguntou ao meu irmão
como ele conseguira esse momento?
Ficou surpreendido, pois na sua memória
não estava esse momento registrado.
Meu irmão então lhe disse que fizera um truque,
que o deixou ainda mais admirado:
filmou meu pai em momentos de descontração com a familia,
e dali tirou esta fotografia, uma das melhores e mais espontânea
que já vi......................

Quando da morte do meu pai eu procurava documentos nas suas gavetas,
encontrei cópias e cópias do poema de Drumond "As Sem-Razões do AMOR"

As Sem - Razões do Amor

Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
E nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
E com amor não se paga.
Amor é dado de graça
É semeado no vento,
Na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
E a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
Bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
Não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
Feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
E da morte vencedor,
Por mais que o matem (e matam)
A cada instante de amor.















Fernando (26/0utubro/1923 - 14/Agosto/2008)




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