quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Hoje pensei sentir Clarice Lispector!
Sinto nos seus desvaneios, sua fala, sua poesia,
seus livros, suas crônicas,
uma força e uma fragilidade conjunta.
Paradoxal, tímida e ousada, alegre e triste, atordoada,

sofrida, amarga, sensível, inocente, cansada, mas apaixonada, sempre!
Sou fascinada por Clarice Lispector.



"Ler Clarice é uma oportunidade de mudar o seu olhar diante do universo. É estar disponível para se aventurar no seu interior de forma irracional, sem censuras. Deixar-se levar pela imaginação, pela intuição e usá-las como forma de conhecimento.
Viver essa experiência de ser leitor de Clarice é uma aventura no que ela tem de imprevisível, surpreendente, perigoso, ao mesmo tempo é um presente porque quando se está lendo Clarice você se sente especial dentro deste universo criado por ela. Especial porque você consegue se reconhecer como um ser humano cheio de limitações, sujeito às adversidades da vida, ao fracasso, às crises, mas também capaz de trilhar um caminho repleto de descobertas, de sustos, de grandes alegrias, de momentos de êxtase, vertigens, delírios.
Ler Clarice é a possibilidade de viver intensamente o que se é.
Seu texto é um convite permanente ao "viver ultrapassa todo o entendimento" (palavras de Clarice).

Teresa Montero é doutora em Letras pela PUC-Rio, autora de Eu sou uma pergunta – uma biografia de Clarice Lispector (1999), organizadora de Correspondências – Clarice Lispector (2002), Outros escritos e Aprendendo a viver imagens.





Clarice Lispector
Brasil
[1920-1977]
Escritora





Clarice Lispector, nascida Haia Lispector (Chechelnyk, 10 de dezembro de 1920Rio de Janeiro, 9 de dezembro de 1977) foi uma escritora brasileira, nascida na Ucrânia.
Autora de linha introspectiva, buscava exprimir, através de seus textos, as agruras e antinomias do ser. Suas obras caracterizam-se pela exacerbação do momento interior e intensa ruptura com o enredo factual, a ponto de a própria subjetividade entrar em crise.
A obra de Clarice ultrapassa qualquer tentativa de classificação. A escritora e filósofa francesa Hélène Cixous vai ao ponto de dizer que há uma literatura brasileira A.C. (Antes da Clarice) e D.C. (Depois da Clarice). (Wikipédia)


FRAGMENTOS


"Há momentos na vida em que sentimos tanto a falta de alguém que o que mais queremos é tirar essa pessoa de nossos sonhos e abraçá-la."

"O que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesmo."

"É tão difícil falar e dizer coisas que não podem ser ditas.É tão silencioso. Como traduzir o silêncio do encontro real entre nós dois?
Dificílimo contar. Olhei pra você fixamente por instantes.
Tais momentos são meu segredo.
Houve o que se chama de comunhão perfeita.
Eu chamo isto de estado agudo de felicidade".

"Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença.
Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco:
quer-se absorver a outra pessoa toda.
Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira
é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida".


"Estou sentindo o martírio de uma importuna sensualidade.De madrugada acordo cheia de frutos.Quem virá colher os frutos de minha vida?

"Mas há a vida que é para ser intensamente vivida, há o amor.Que tem que ser vivido até a última gota.Sem nenhum medo. Não mata."

"Estou à procura de um livro para ler. É um livro todo especial.
Eu o imagino como a um rosto sem traços. Não lhe sei o nome nem o autor. Quem sabe, às vezes penso que estou à procura de um livro que eu mesma escreveria. Não sei. Mas faço tantas fantasias a respeito desse livro desconhecido e já tão profundamente amado. Uma das fantasias é assim.
Eu o estaria lendo e de súbito, uma frase lida, com lágrimas nos olhos diria em êxtase de dor e de enfim libertação:
Mas é que eu não sabia que se pode tudo, meu Deus!"

"Quando eu me comunico com criança é fácil porque sou muito maternal. Quando me comunico com adulto, na verdade estou me comunicando com o mais secreto de mim mesma, daí é difícil... O adulto é triste e solitário. A criança tem a fantasia muito solta."

"Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é possível fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada."

"A harmonia secreta da desarmonia: quero não o que está feito mas o que tortuosamente ainda se faz. Minhas desequilibradas palavras são o luxo de meu silêncio. Escrevo por acrobáticas aéreas piruetas - escrevo por profundamente querer falar. Embora escrever só esteja me dando a grande medida do silêncio."

"Sou um monte intransponível no meu próprio caminho."

"Amor será dar de presente um ao outro a própria solidão? Pois é a coisa mais última que se pode dar de si."

"Toda a compreensão súbita é a revelação de uma aguda incompreensão."

"A vida é uma grande sedução onde tudo o que existe se seduz."

"O tédio é de uma felicidade primária demais! E é por isso que me é intolerável o paraíso."

"Quando se realiza o viver, pergunta-se: mas era só isto? E a resposta é: não é só isto, é exactamente isto."

"Os factos são sonoros. O que importa são os silêncios por trás deles."

"E ninguém é eu, e ninguém é você. Esta é a solidão."

"Enquanto eu tiver perguntas e não houver respostas, continuarei a escrever."

“Estou desorganizada porque perdi o que não precisava? Nesta minha nova covardia – a covardia é o que de mais novo já me aconteceu, é a minha maior aventura, essa minha covardia é um campo tão amplo que só a grande coragem me leva a aceitá-la –, na minha nova covardia, que é como acordar de manhã na casa de um estrangeiro, não sei se terei coragem de simplesmente ir. É difícil perder-se. É tão difícil que provavelmente arrumarei depressa um modo de me achar, mesmo que achar-me mesmo seja de novo a mentira que vivo.”

A lucidez perigosa (poema)

Estou sentindo uma clareza tão grande
que me anula como pessoa atual e comum:
é uma lucidez vazia, como explicar?
assim como um cálculo matemático perfeito
do qual, no entanto, não se precise.

Estou por assim dizer vendo claramente o vazio.
E nem entendo aquilo que entendo:
pois estou infinitamente maior que eu mesma,
e não me alcanço.
Além do que:
que faço dessa lucidez?
Sei também que esta minha lucidez
pode-se tornar o inferno humano- já me aconteceu antes.

Ao falar de suas origens:
"Sou brasileira naturalizada, quando, por questão de meses, poderia ser brasileira nata. Fiz da língua portuguesa a minha vida interior, o meu pensamento mais íntimo, usei-a para palavras de amor."

Ao falar sobre seus primeiros textos:
"Comecei a escrever pequenos contos logo que me alfabetizaram, e escrevi-os em português, é claro. Criei-me em Recife. [...] E nasci para escrever. A palavra é meu domínio sobre o mundo."

Ao ser perguntada porque escolheu a literatura para sua vocação:
"[...] talvez porque para as outras vocações eu precisaria de um longo aprendizado, enquanto que para escrever o aprendizado é a própria vida se vivendo em nós e ao redor de nós. É que não sei estudar. E, para escrever, o único estudo é mesmo escrever."

As últimas entrevistas de Clarice Lispector, não deixe de ouví-las!

http://www.youtube.com/watch?v=9ad7b6kqyok
http://www.youtube.com/watch?v=ZVwj3pHAi_s&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=TvLrJMGlnF4&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=TbZriv5THpA&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=tZEYMh4pETw&feature=related




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