terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

SOBRE A AMIZADE

Cícero ensina que a amizade verdadeira é desinteressada: ela não fica, severa, a controlar se está dando mais do que recebeu. Por isso chamam de "consumatória" a verdadeira amizade, porque, os amigos convivem de modo desinteressado e sem cálculo sobre a própria relação.

Quando Montaigne fala de sua amizade de E. La Boétie, demonstra admiração. Conceitua a amizade como um encontro existencial de almas que se entendem, muitas vezes não lhes percebendo sequer a linha de demarcação entre cada personalidade. (Montaigne. Ensaios: cap. XXVIII).

Efetivamente, os gregos antigos são fonte de inspiração sobre a amizade. Para Epicuro (341-270 a.C) “embora não altere o sofrimento nem possa evitar a morte, (a amizade ou "philia") ajuda a suportá-la (...). Ainda, a "philia" é o instrumento indispensável ao artesanato ético interior, pois a presença do amigo auxilia a procura e a manutenção da sabedoria...” (Pessanha, 1992).
Epicuro foi o sábio que mais teve amigos, na antiguidade, tamanho foi o número deles que vieram saudá-lo no seu funeral. Embora fosse um homem de saúde frágil, Epicuro, morreu feliz, brindando aos seus amigos com uma taça de vinho.
Sócrates (469-399 a.C.) também não se cansava de dizer que o maior bem que tinha na vida eram os amigos. Entretanto, sua ferina ironia, teria angariado para si muitos inimigos, dentre eles os sofistas. Uma de suas preocupações, como filósofo, era ensinar aos discípulos como fazer e como manter amizade, dado que existem pessoas que facilmente iniciam uma, mas não sabem como mantê-la.
Platão, seu principal discípulo, herdou do mestre sua dedicação para com esse assunto, fazendo vários diálogos elogiando a amizade.
Mas coube a Aristóteles elevar a amizade à categoria de virtude, que como tal é uma coisa absolutamente necessária para a vida – mais exatamente, para viver a vida com sentido de felicidade (gr.: eudaimonia). “Ainda que possuísse todos os bens materiais, um homem sem amigos não pode se feliz”, diz.
Homem do nosso tempo, o sociólogo italiano Alberoni, observa com propriedade que amizade só é possível entre “iguais”, ou entre aqueles que vivem a mesma condição humana. Portanto, é praticamente impossível existir amizade entre patrão e empregado, entre concorrentes, entre professor e aluno, entre médico e paciente, entre psicanalista e analisando, entre líder e liderados, entre sargento e soldado, entre uma autoridade e os seus subalternos, etc., porque sendo relações dessimétricas é natural que exista entre tais pessoas, respeito, veneração, temor reverencial, adulação, puxa saquismo, mas não amizade genuína. Para que alguma dessas relações vire uma amizade verdadeira há que ser superada tal dessimetria, além delas passarem por provas impostas pelas circunstâncias da própria vida.
Malebranche lembrou que as atitudes de adulação nada têm a ver com a amizade. O aluno que adula o professor, longe de promover a relação, reforça o narcisismo que todo professor não revela, mas se alimenta dele para exercer bem o seu ofício. A experiência mostra que o aluno adulador tem outros interesses facilmente adivinhados. Os discípulos que seguem a orientação de um “grande mestre” vão além da adulação quando almejam levar suas idéias para o ato, mas não fundam uma verdadeira amizade. Parece que o enamoramento e a amizade são de naturezas diferentes, embora existam muitos pontos de semelhança entre ambos, tais como: confiança, desejo de estar junto, agradar o outro, trocar pontos de vista, etc.
É mais sábio e gratificante para todo o ser humano ser levado por esse “impulso natural” que é a amizade do que ser movido por interesses supostamente elevados, onde o outro é reduzido a um mero objeto-instrumento de uma causa". (blog do Scheinman)

AMIGO É COISA PRA SE GUARDAR DO LADO ESQUERDO DO PEITO...

MESMO QUE O TEMPO E A DISTÂNCIA DIGAM NÃO!

Sossô, Carmen e Ivone.

São Paulo, INVERNO/2008

Nenhum comentário:

Postar um comentário