terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Envelhecer

Entra pela velhice com cuidado,
Pé ante pé, sem provocar rumores
Que despertem lembranças do passado,
Sonhos de glória, ilusões de amores.
Do que tiveres no pomar plantado,

Apanha os frutos e recolhe as flores
Mas lavra ainda e planta o teu eirado
Que outros virão colher quando te fores.
Não te seja a velhice enfermidade!

Alimenta no espírito a saúde!
Luta contra as tibiezas da vontade!
Que a neve caia! o teu ardor não mude!

Mantém-te jovem, pouco importa a idade!
Tem cada idade a sua juventude.
Bastos Tigre





PAI
Tempo em que fostes,
Tempo em que fostes tu,
Pai.
Esse tempo que é tempo,
Tempo do meu sofrer,
Tempo de te perder,
Meu tempo que já nem é mais,
Tempo ao olhar atras.
Pai.
Foram tantos dias ao teu lado;
sabia que seriam duros, difíceis, mas necesários dias.
Dias de certeza, dias de dúvidas
e outros de mais certeza ainda.
Muitas vezes me vi em ti,
Outras te vi em mim,
Confundiam-se emoções, mêdos,
Meus e teus, nossos.
Por fim partir, ir embora,
Tantas certezas e dor,
Cansaço,
De ti, de mim, de nós,
Pai!




















Saudades

Saudades! Sim… talvez… e porque não?…
Se o nosso sonho foi tão alto e forte
Que bem pensara vê-lo até à morte
Deslumbrar-me de luz o coração!
Esquecer! Para quê?… Ah! como é vão!
Que tudo isso, Amor, nos não importe.
Se ele deixou beleza que conforte
Deve-nos ser sagrado como pão!
Quantas vezes, Amor, já te esqueci,
Para mais doidamente me lembrar,
Mais doidamente me lembrar de ti!
E quem dera que fosse sempre assim:
Quanto menos quisesse recordar
Mais a saudade andasse presa a mim!
Florbela Espanca



Um comentário: