quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009


Ao meu pai querido, Fernando,
tantas vezes heroi
e tantas vezes bandido,
tal como sinto-me agora!
O ano de 2008 trouxe-me a proximidade e a distância do meu pai.
Trouxe-me o reencontro com Alagoinhas,
a cidade onde nascí e de onde tenho lembranças muito boas.
Onde a infância foi pródiga e deixou-me marcas indeléveis.
Lembro-me que ao velar meu pai muitas vezes pensei que aquele ali,
deitado, inerte, sem qualquer reação, não era o "meu pai".
Não era aquele homem que viveu entusiasticamente e que me dizia dias antes da sua morte:
"aproveitas a vida minha filha, que ela é muito curta, passa rapidamente".
Não era aquele homem corajoso e que construiu sua vida com determinação e força.
Não era aquele homem simples mas tão sábio de emoções, verdadeiramente não era meu pai aquela coisa estendida ali.
Lembro-me durante a noite, ao velar seu corpo, olhar seu rosto e buscar o meu pai.
Dias depois, ouvia uma entrevista do Lôbo Antunes na TV portuguêsa, onde ele
colocava palavras nos meus sentimentos frente a morte do meu pai.
Aqui estão fragmentos dessa inteligente e sensível entrevista.
Adicionar imagem"Este não é o meu pai....
É terrivel a morte de um pai, mesmo do ponto de vista estritamente egoista, e só pessoal, porque um pai é alguém que está entre nós e a morte e quando o pai desaparece, quando a morte bater a porta quem vai abrir somos nós.
É algo que ainda nos defende da morte.
A morte do pai não é um prenúncio,
ficamos indefesos perante ela.
Este não é o meu pai.
E aquela coisa ali estendida não é de fato meu pai,
nem a mãe de ninguém".
Só ficas adulto depois do teu pai morrer, porque deixou de existir a última coisa que existia entre ti e a morte.
A morte das pessoas de quem gostamos amputa-nos.
Antonio Lôbo Antunes/escritor português

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