domingo, 20 de dezembro de 2009

AMIZADE!

O VALOR DA AMIZADE

"O amigo vê e ouve o que não somos capazes de ver nem ouvir.
Assim sendo, pode fazer por nós
o que não temos como fazer por nós mesmos"

A mesma palavra tem significados diferentes
de acordo com o texto ou o discurso em que figura.
A importância disso é capital, pois significa que,
para interpretar uma palavra, precisamos nos debruçar
sobre o contexto do qual ela faz parte
ou escutar verdadeiramente quem a profere.
Do contrário, não a entendemos.
O ensinamento básico de Sigmund Freud é esse
e bastaria para justificar a psicanálise,
se isso ainda fosse necessário.
A maioria das pessoas, no entanto, não se dispõe a escutar.

Poucos nascem com essa capacidade,
que pode e precisa ser desenvolvida.
Escutar é um ato generoso.
Implica que eu deixe momentaneamente de falar
e esteja aberto para o que o outro tem a dizer.
A escuta é a característica do psicanalista

e também do verdadeiro amigo – que não impõe a sua presença,
não diz o que não deve ser dito e, assim,
faz com que a amizade floresça.
Ou seja, o amigo sabe se conter, exercita-se na ética da contenção.
Por isso, ele é de paz e a sua maneira de ser
pode servir de modelo para todas as outras relações:
marido e mulher, pais e filhos e irmãos.
O que o filósofo e historiador grego Xenofonte

escreveu 2 400 anos atrás poderia ter sido escrito hoje:
"Um bom amigo é o mais precioso de todos os bens.
Está sempre pronto a auxiliar...
Há homens, contudo, que investem toda a sua energia
no cultivo de árvores, para colher frutos,
e são negligentes com o amigo, o bem que mais frutifica".
O amigo vê e ouve o que não somos capazes de ver nem ouvir.
Assim sendo, pode fazer por nós o que não temos como fazer por nós mesmos. Como o analista, ele ilumina o caminho.
Ele sabe suspender o seu desejo para que o do outro se manifeste.

O que ele mais quer é o acordo.
Está menos interessado nos eventuais benefícios materiais
que a amizade pode trazer do que no fortalecimento desta.
Visa sobretudo ao contentamento do outro
e não deve ser confundido com o cúmplice,
que visa ao próprio interesse
e se liga a alguém em função do que almeja alcançar.
O elo de cumplicidade tende a ser efêmero,

enquanto o de amizade é para sempre.
Em outras palavras, o amor dos amigos nunca é de agora,
e sim para a vida inteira.
Também por isso, há milênios a amizade inspira escritores,
que se perguntam de que modo escolher um amigo,
quais as características de um amigo verdadeiro e o que nós devemos a ele.
Os escritores – os melhores, entre eles –
sabem que a amizade nasce espontaneamente,
mas só dará os seus melhores frutos se for cultivada.

Betty Milan - psicanalista e escritora

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