Recomeça... se puderes, sem angústia e sem pressa e os passos que deres,
nesse caminho duro do futuro, dá-os em liberdade,
enquanto não alcances não descanses,
de nenhum fruto queiras só metade.
O que é bonito neste mundo, e anima, é ver que na vindima de cada sonho fica a cepa a sonhar outra aventura. E que a doçura que não se prova se transfigura noutra doçura muito mais pura e muito mais nova.
A vida afectiva é a única que vale a pena. A outra apenas serve para organizar na consciência o processo da inutilidade de tudo.
BILHETE
Não te sei dizer mais.
Depois de tantos versos,
Que te baste o silêncio
Dum poeta ardente,
Que sempre, naturalmente,
Foi além das palavras
Do amor, amando.
Que, em cada beijo,
Selava os lábios que o nomeavam.
Que aprendeu, a sofrer,
Que tudo acontecia
No acontecer.
Que, até nas horas de evasão, sabia
Que a verdadeira vida vive-se a viver .
Miguel Torga, pseudónimo de Adolfo Correia da Rocha (1907 - 1995), médico, poeta, escritor e ensaísta português.
http://purl.pt/13860/1/miguel-torga.htm

Foto de Rui Moutinho
Nenhum comentário:
Postar um comentário