quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Nas compras,
Entre frutas e diversos,
li este título : "Tempo da Delicadeza".
Fascinei-me por ele, pareceu-me atual.
Tão raro o tempo,
E tão raro as delicadezas!

Affonso Romano então conclui:
"Sei que vão dizer: a burocracia, o trânsito, os salários, a polícia,
as injustiças, a corrupção e o governo não nos deixam ser delicados.
- E eu não sei?
Mas de novo vos digo: sejamos delicados.
E se necessário for, cruelmente delicados."


O Caminho que não tomei..............

Entre duas possibilidades, que caminho tomar?
Um dos poemas mais conhecidos da literatura norte-americana
foi escrito por Robert Frost (1874-1963).
É o famoso "The road not taken", e foi traduzido pelo poeta português Antônio Simões com o título "O caminho que não tomei".
Está numa recente antologia onde ele verteu competentemente 112 poemas do inglês
para a nossa língua.
Entre duas possibilidades, que caminho tomar?
Pode ser entre dois amores, dois empregos, duas ruas, dois países.
Pode ser uma encruzilhada qualquer.
O fato é que a escolha é às vezes algo complicado.
Tão complicado que uns psicólogos norte-americanos criaram
a "teoria da dissonância cognitiva" baseada nesse drama.
Como escolhemos as coisas, seja uma simples geladeira, uma proposta, uma roupa,
e que racionalizações fazemos para justificar a direção tomada?
O poema é simples, Robert Frost foi um poeta que escrevia simples,
e de tão popular que era foi chamado para ler um poema
na posse do presidente Kennedy, em 1961.
Diz o poeta que duas estradas divergentes surgiram-lhe num bosque amarelado,
e infelizmente ele não podia viajar ao mesmo tempo pelas duas.
Eram duas estradas e ele era uma pessoa só.
Ele estendeu os olhos sobre a primeira delas tão longe quanto podia
até que ela se perdesse na folhagem.
No entanto, mesmo diante dessa sedução,
ele tomou a outra via, que tinha uma agreste vegetação dificultando-lhe o caminho.
Fazer tal escolha foi, ao mesmo tempo, obter e perder alguma coisa.
Na última estrofe, que reproduzo aqui em português e inglês,
ele resume a perplexidade da situação:

"Suspirando, estarei contando a ti,
Daqui a mil anos, o que aconteceu:
Dois caminhos bifurcavam, e eu -
O menos pisado tomei como meu
E a diferença está toda aí."
I shall be telling this with a sigh
Somewhere ages and ages hence:
Two roadas diverged in a wood, and I -
I took the one less traveled by,
And that has made all the difference.
Ou seja, em minha vida eu tomei a estrada mais difícil, menos usada, e isto fez toda a diferença.(...)
O poema de Frost fala de algo mais ético e existencial.
É inevitável associar a ele um outro poema, do poeta português José Régio,
intitulado "Cântico Negro", e que começa assim:

"Vem por aqui!" - dizem-me alguns com olhos doces,
estendendo-me os braços e seguros
de que seria bom que eu os ouvisse
quando me dizem: "Vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
e cruzo os braços e nunca vou por ali..."
E depois de repetir que não segue os outros,
que só vai por onde bem quer, o poema assim termina:

"Não sei por onde vou.
Não sei para onde vou.
- Sei que não vou por aí!"

André Gide dizia que , nessa vida,
o diabo é que dos cem caminhos a gente tem que escolher um
e ficar com a nostalgia dos outros 99.
É possível. E há quem sinta nostalgia de todos os cem.
Esse tipo de frase de efeito antigamente me tocava.
Mas hoje, menos pretensiosamente,
acho que nos cabe tornar o caminho escolhido mais belo
e nele descobrir seus fascinantes mistérios.
Affonso Romano de Sant'Anna -
"Tempo de Delicadeza"

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