sábado, 19 de junho de 2010

SARAMAGO!

"Nossa única defesa contra a morte é o amor"

Aos 87 anos morre José Saramago.
Quando o li pela primeira vez fiquei curiosa por conhecer
aquela pessoa reservada, de poucas palavras, inteligente,
extremamente sensível e grande humanista.
Nas últimas entrevistas fala do grande amor pela mulher,
um encontro que mudou para sempre a sua vida.
Da morte, nao tinha mêdo,
e da vida, tinha uma relação feita de coragem e questionamentos.

Nasceu em novembro de 1922 na aldeia de Azinhaga (centro de Portugal).
Filho de agricultores sem terra que imigraram para Lisboa,
abandonou a escola aos 12 anos para receber formação de serralheiro,
um ofício que exerceria durante dois anos.

Em 1969 aderiu ao Partido Comunista, nessa época clandestino,
e participou em Revolução dos Cravos de 25 de abril de 1974
que pôs fim à ditadura de Salazar.

Saramago por Saramago:

"Não tenha pressa, mas não perca tempo..."

"Há esperanças que é loucura ter.
Pois eu digo-te que se não fossem essas
já eu teria desistido da vida." (Ensaio Sobre a Cegueira)

"Cada dia traz sua alegria e sua pena,
e também sua lição proveitosa".

"Há ocasiões que é mil vezes preferível
fazer de menos que fazer de mais,
entrega-se o assuntto ao governamento da sensibilidade,
ela, melhor que a inteligência racional,
saberá proceder segundo o que mais convenha
à perfeição dos instantes seguintes".

"Sempre chega a hora em que descobrimos
que sabíamos muito mais do que antes julgávamos".

"O espelho e os sonhos são coisas semelhantes,
é como a imagem do homem diante de si próprio".

"O que as vitórias têm de mau é que não são definitivas.
O que as derrotas têm de bom é que também não são definitivas".

"Há situações na vida
em que já tanto nos dá perder por dez
como perder por cem,
o que queremos é conhecer rapidamente
a última soma do desastre,
para depois, se tal for possível
não voltarmos a pensar mais no assunto".

"Antes estávamos, hoje já não estamos" (sobre a morte)

"Parece que deus gosta de ateus aqui na Terra.
Saramago, um dos ..."

"De que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro
e perder a sua alma ?"

"Mesmo que a rota da minha vida me conduza a uma estrela,
nem por isso fui dispensado de percorrer os caminhos do mundo".

"Todos sabemos que cada dia que nasce é o primeiro para uns
e será o último para outros e que,
para a maioria, é so um dia mais"

Palma com palma,
Coração e coração, e gosto de alma
No mais fundo do corpo revelado.
Já a pele não separa, que as palavras
São espelhos rigorosos da verdade
E todas se articulam deste lado.
Linhas mestras da mão abram caminho
Onde possam caber os passos firmes
Da rainha e do rei desta cidade".

"Na ilha por vezes habitada do que somos,
há noites, manhãs e madrugadas em que não precisamos de morrer.
Então sabemos tudo do que foi e será.
O mundo aparece explicado definitivamente
e entra em nós uma grande serenidade,
e dizem-se as palavras que a significam.
Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas mãos.
Com doçura.
Aí se contém toda a verdade suportável:
o contorno, vontade e os limites
Podemos então dizer que somos livres,
com a paz e o sorriso de quem se reconhece
e viajou à roda do mundo infatigável,
porque mordeu a alma até aos ossos dela.
Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres
como a água, a pedra e a raiz.
Cada um de nós é por enquanto a vida.
Isso nos baste"

3 comentários:

  1. Homenagem linda!

    Pessoalmente, admiro a obra de Saramago.
    Não apreciei a sua postura política em Portugal. Não basta dizer que era comunista, há muita coisa por trás disso com a qual não concordo.
    Se me pergunta o quê, eu respondo sucintamenmte: repugna-me a confusão que os comunistas fazem entre política e moral. Isso leva-os a considerarem que quem não é comunista é moralmente inferior: é corrupto, ambicioso, está ao serviço da exploração capitalista, etc.
    No limite, isto leva a que, quando atingem o poder, destroem os adversários que consideram inimigos a abater.
    A História do séc. XX está cheia de exemplos disto.

    Saramago não se demarcou disto, isso não esqueço. Por isso recuso as loas que agora se cantam por aí, num unanimismo acrítico que só existe porque ele morreu...

    Desculpe o arrazoado, Carmen.
    Beijinho!

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  2. A cultura chora, mas chora enriquecida pela obra do grande autor, porque essa fica. Beijos

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  3. Das mais bonitas homenagens a Saramago, que encontrei na Blogosfera!
    Conheci, pessoalmente, o escritor invulgar, coberto com o manto do talento e do génio. Entrevistei-o uma vez. Acompanhei-o, durante uma semana, nos caminhos que ele percorrera para escrever "Viagem a Portugal", que começa com o notável "Sermão aos peixes". Contactei, então, com o Homem, que se me revelou afável e de uma Humanidade imensa. Passei a admirá-lo também como homem, mesmo nos momentos em que dele discordei.
    A sua postura política nunca foi a de um comunista ortodoxo, dogmático. Muitas vezes assumiu posições públicas contra o seu partido, como quando apoiou uma candidatura (do Partido Socialista) à Câmara Municipal de Lisboa, à revelia da do PCP. Cortou com Cuba quando o Governo de Havana fuzilou três dissidentes que tinham roubado um barco para fugir do país.Ele disse, apenas: "Até aqui já fui!". "Comunista hormonal", seja lá o que isso for, era como ele se classificava.
    A verdade, Carmen, é que a Literatura mundial perdeu um grande expoente.
    Beijos

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