segunda-feira, 12 de outubro de 2009

"Há uma hora certa,
no meio da noite, uma hora morta,
em que a água dorme.
Todas as águas dormem:
no rio, na lagoa,
no açude, no brejão, nos olhos d’água,
nos grotões fundos.
E quem ficar acordado,
na barranca, a noite inteira,
há de ouvir a cachoeira
parar a queda e o choro,
que a água foi dormir...
Águas claras, barrentas, sonolentas,
todas vão cochilar.
Dormem gotas, caudais, seivas das plantas,
fios brancos, torrentes.
O orvalho sonha
nas placas da folhagem.
E adormece
até a água fervida,
nos copos de cabeceira dos agonizantes...
Mas nem todas dormem, nessa hora
de torpor líquido e inocente.
Muitos hão de estar vigiando,
e chorando, a noite toda,
porque a água dos olhos
nunca tem sono".
- Guimarães Rosa

4 comentários:

  1. ...nem todos dormem, nesta hora de torpor líquido e inocente.

    Bj

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  2. Oi, Carmen, peguei só hoje seu comentário em meu blog. Muito obrigado pelas palavras, tão afetuosas sobre meus escritos. Sim, será um prazer se você postar algo meu no seu blog. Um beijo. Rafa

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  3. Bela escolha, Carmen! :) Boa semana.

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  4. O olhos choram...
    Os olhos expressam sentimentos que podem ser sorrisos ou lágrimas mas, também, as lágrimas podem e, muitas vezes o são, alegria e sentimento.

    Querida Amiga,

    Quero expressar o meu agradecimento pela visita e comentário em meu blogue. Claro que é um prazer retribuir e poder observar a beleza das palavras, sábiamente, partilhadas.

    bj...nho

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